sexta-feira, 3 de julho de 2009

A quebra do Pacto

Camila Acatauassú

Antes da era digital, poderia, facilmente, se falar em mercado editorial, produção de notícias e jornalistas como um grupo inseparável, que caminhava de mãos dadas, na mesma direção e lentamente.
Mas com a digitalização da informação e a crescente necessidade de transmissão de notícias de forma mais rápida e dinâmica, novos canais começaram a surgir, de modo a suprir essa demanda desenfreada por informação. Nessa leva, surgiram os blogs de notícias, jornais digitalizados, TVs online, notícias por SMS e até mesmo as atualizações de navegadores de Internet começaram a facilitar as pesquisas virtuais.
No entanto, toda essa modernização mudou também a relação inseparável do mercado editorial, da produção de notícias e dos jornalistas. De certa forma, o mercado editorial tornou-se obsoleto, afinal, nessa vida mais dinâmica e corrida da sociedade pós-moderna, as notícias precisam ser mais rápidas, curtas e portáteis do que um jornal de papel cheio de cadernos – como uma nota num SMS, por exemplo. Por outro lado, a rapidez, aparentemente necessária para esse ritmo de vida, acaba tornando as notícias efêmeras e preocupantemente superficiais. Sendo assim, modifica-se completamente o processo de produção de notícias, que, anteriormente podia ser muito mais meticulosamente articulado e rebuscado, checando fontes e tendo mais tempo hábil para ver as coisas acontecendo de fato. Hoje em dia, grande parte das notícias são apenas a recontagem de uma história que foi contada por alguém – ou seja, quanto mais obstáculos há no canal, mais ruído haverá quando a informação chegar ao seu destinatário.
O jornalista, nesse processo de modernização do bombardeamento, já não é apenas um mero expectador, investigador e partilhador dos fatos que presencia – ele é, ainda, seu próprio editor, fotógrafo, redator e corretor de erros. Tudo isso em tempo recorde de poucas horas ou, muitas vezes, minutos.
Certamente que as notícias, na sociedade atual, precisam ser transmitidas imediatamente; os telespectadores, internautas e mesmo os leitores anseiam por isso. A mídia impressa tornou-se lenta demais para a demanda e a rapidez que as mensagens precisam ser transmitidas para suprir a necessidade do sensacional que a própria mídia enxertou nas pessoas. Por conta disso, as notícias tornaram-se ocas, os jornalistas não são mais os especialistas em contar os fatos da maneira mais veraz possível e a esmagadora maioria das mensagens passadas e recebidas por pessoas que estão distantes, hoje em dia, são feitas por aparelhos eletrônicos, normalmente portáteis. Da mesma forma que não existe mais tempo para um homem normal, que trabalha oito horas por dia, ler o jornal inteiro quando acorda, não há possibilidade de a mídia parar um segundo sequer. A maioria dos sites de grandes empresas de comunicação e telecomunicação são atualizados vinte e quatro horas por dia.
A tecnologia, supostamente, não deveria dificultar a inteligibilidade dos fatos, pelo contrário. Porém, as pessoas preferiram trocar qualidade por quantidade. Até que chegará um dia que nem precisaremos mais de jornalistas para reportar os fatos – e talvez nem de pessoas para lê-los.

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