quarta-feira, 15 de julho de 2009

A Ditadura da Boa Idéia

por Pedro Rampazzo

Uma das discussões mais produtivas que me envolvi, em 2009, foi sobre a defesa da “idéia”. Tenho um amigo, inteligentíssimo, que acha que o principal na vida é ter “boas idéias”. Durante um tempo, também acreditava que grandes idéias moviam o mundo. Errado! O que move o mundo são ações. E no audiovisual, como em todas as outras áreas que conheço, também é assim. Nos dias atuais, com a velocidade do tráfego de informações, uma boa idéia não é quase nada: pode durar apenas alguns minutos. Todo mundo tem boas idéias para um filme, mas poucas chegam a um roteiro e menos ainda a uma obra audiovisual. Por quê? O caminho é longo e cheio de ladeiras (parece Olinda). Comecei a me interessar por vídeo e cinema faz uns dois anos. Tudo começou com uma idéia: virar cineasta! A partir daí comecei a ver possibilidades audiovisuais em tudo. O cinema, por possuir movimento, é muito parecido com o mundo, com as pessoas e as situações, é fácil enxergar cinema em tudo, difícil é realizar... difícil e muito mais prazeroso que pensar e ter idéias. Em 2005, fui a um festival de música popular que existe na cidade do Cabo de Santo Agostinho (PE) e, tomando umas cervejas debaixo de um sol escaldante, ouvi (estava de costas para o palco) um coro de vozes femininas cantando umas melodias lindas. Como sou militante da música popular (é com isso que trabalho, atualmente), virei para o palco, olhei e me apaixonei de imediato: era o grupo Coco de Tebei que estava se apresentando. Lindo! Fazem música com o corpo. Cantam e batem os pés para marcar o ritmo. Não possuem instrumentos musicais (nem precisa). Voltei para casa com aquela imagem e som na cabeça. Tinha que ver “aquilo” novamente. E a oportunidade veio alguns meses depois. O Coco de Tebei, da pequena cidade de Tacaratu, sertão pernambucano, veio para Olinda, se apresentar no terreiro do saudoso Mestre Salustiano, falecido este ano. Eu e Paloma Granjeiro, minha sócia e amante, fomos para a Casa da Rabeca ver, novamente, este grupo maravilhoso. Antes da apresentação, fizemos contato com os integrantes e propomos um trabalho juntos. Disse a verdade: estávamos apaixonados por aquela brincadeira que eles faziam. Num próximo encontro, acertamos tudo. Foi assim que nasceu o projeto Eu Tiro o Couro do Dançador (2008): CD + DVD com o Coco de Tebei. No CD, gravamos 16 músicas interpretadas pelo grupo e alguns convidados. Para o DVD, produzimos o documentário Tebei, de 21 minutos, gravado em MiniDV, nas cidades de Tacaratu e Recife. O projeto é uma realização da Sambada Comunicação e Cultura (minha empresa com Paloma), com patrocínio do Governo do Estado de Pernambuco e apoio da Cabra Quente Filmes e da Associação Respeita Januário. A direção coletiva é de Gustavo Vilar (historiador); Hamilton Costa Filho (diretor de fotografia) e Paloma Granjeiro (jornalista e produtora fonográfica), além de mim. Nossa principal intenção, com a realização do documentário, foi mostrar para o mundo como vivem aquelas pessoas e divulgar o trabalho artístico delas, único no Estado. A Missão Folclórica de 1938, coordenada por Mário de Andrade, já havia passado por Tacaratu e registrado o coco feito na região. Pena que poucas pessoas tem acesso a este material. Com este primeiro produto audiovisual da Sambada, ficamos empolgados e, incentivados por Hamilton Costa (que é sócio de uma produtora de vídeo), começamos a fazer algumas inscrições em festivais nacionais e, em maio deste ano, ganhamos nosso primeiro prêmio: o Tebei foi o melhor curta digital da Mostra Pernambuco do 13º Cine PE Festival Audiovisual do Recife (2009). Uma boa idéia que deu certo e que está rendendo uma graninha para a Sambada e para o grupo Coco de Tebei, que passou a ter mais visibilidade no mercado musical local. Foi fácil? Claro que não. A realização do projeto durou mais de um ano; envolveu, diretamente, mais de 30 profissionais; custou mais que o valor do patrocínio; agradou e desagradou a muitos... mas, virei cineasta. Empolgado com a “facilidade” das coisas, estou escrevendo meu primeiro roteiro. Não será nada sobre música ou manifestações populares. Será um documentário sobre problemas urbanos que envolvem consumo de drogas e prostituição juvenil. Um tema pesado. Mas preciso fazer, pois agora, vejo cinema em tudo.


Pedro Rampazzo é jornalista, fotógrafo, cineasta (recentemente) e diretor da Sambada Comunicação e Cultura, uma empresa apaixonada pelas artes do Nordeste.

Um comentário:

  1. Adorei o texto! Tô indo agora mesmo pesquisar sobre o grupo.
    Clarissa Barcellos

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