quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Jornalismo com Ética


Pensar a ética jornalística no dia-a-dia das redações é antes de tudo cobrar do repórter responsabilidade na apuração e redação dos fatos. Definir o que é notícia e mostrá-la de forma verdadeira e clara, deixando de lado todas as convicções partidárias à pauta para refletir no texto apenas o que foi apurado in loco. Caso esta regra clássica não possa ser cumprida é melhor deixar a pena de lado e a matéria apenas na cabeça de quem a pensou. No jornalismo ético só há lugar para opiniões em colunas, artigos e editoriais.

No livro “A Reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística”, Nilson Lage mostra os efeitos colaterais da “parcialidade” no jornalismo. “Quando os militares autorizaram a instalação de empresas de seguro-saúde no Brasil, a Golden Cross montou um setor de atendimento aos jornalistas de onde partiam denúncias contra os hospitais públicos. Julgando estar prestando um serviço e combatendo a ditadura, vários jornalistas acabaram ajudando a empresa naquele início difícil dos “negócios” quando o atendimento público de saúde ainda tinha uma imagem boa.”

Outro caso que precisa ser analisado sob o ponto de vista ético é a entrevista concedida pelo jornalista Dan Rather, principal âncora da rede americana de televisão CBS, ao programa de David Letterman (26/01/01). Enquanto falava sobre os atentados terroristas de 11 de sentembro, quando Bin Ladem ordenou a destruição das torres gêmeas (World Trade Center) e do Pentágono, Rather chorou três vezes e se colocou a disposição do então presidente dos EUA George Bush: “Como americano, ele terá o que quer de mim.” O que dizer desta postura?

Já o jornalista Robert Fisk, um dos mais respeitados correspondentes no Oriente Médio, resenhou: “O mundo será levado a acreditar nos próximos dias que presenciamos uma luta da democracia contra o terrorismo; na verdade, os atentados têm muito a ver também com mísseis americanos caindo sobre lares palestinos; com helicópteros americanos jogando mísseis em uma ambulância libanesa em 1996; e com uma milícia libanesa – paga e uniformizada por Israel, o fiel aliado americano – cortando, estuprando e matando refugiados em seu caminho. E com muito mais”.

Todo repórter/redator/editor que respeita a si e a profissão que abraçou precisa ser analítico. Não pode comprar "meias verdades" e nem acreditar em “embalagens”. Tem que investigar a fundo toda e qualquer informação. Uma pauta só é resolvida quando todos os porquês são respondidos de forma satisfatória e não há mais dúvidas no ar. Isso é jornalismo ético e sério.Luiz Garcia, editor de opinião do jornal O Globo, ensina: “Um homem público acusa outro de um delito qualquer. E temos a infantil ingenuidade de achar que o problema se resolve ouvindo o outro lado. Fulano diz que Beltrano é ladrão de galinhas – e Beltrano nega. É uma postura preguiçosa, que contribui para a impressão de que a imprensa brasileira é viciada em denuncismo. Nossa obrigação não é simplesmente ouvir os dois lados, e sim apurar o que há de verdade na história. Inclusive, se for o caso, para concluir que não há história”.

“O senhor não chamou o meu procedimento de desumano, pelo contrário, de acordo com sua percepção mais profunda, o senhor o considera o mais humano, o mais digno de todos, o senhor também admira este maquinismo”, diz o personagem de Franz Kafka (Na Colônia Penal), ao visitante encarregado de opinar sobre o cruel sistema de punição ao condenado sem qualquer direito de defesa.É hipocrisia criar uma ética particular para justificar qualquer ato de nosso interesse. Segundo Maquiavel, “é ético o que interessa ao bem comum e não o que interessa meramente ao príncipe”. Acredito ser esta a linha mestre a ser seguida nas redações. Ética, honestidade e trabalho sério “não devem ser adjetivos ou penduricalhos gramaticais na vida do profissional de comunicação”, mas prática diária do jornalista.

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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Assessoria de Imprensa - Governo


Os Estados Unidos talvez seja o país que mais investe em assessoria de imprensa governamental. Há um verdadeiro aparato técnico-profissional para informar o que faz o governo: quais suas idéias, projetos e ações, bem como para reafirmar seu poder e corrigir erros e distorções na comunicação externa. Veja como funciona esta importante engrenagem.

"Distribuíamos textos sobre tudo", diz a ex-secretária de imprensa da Casa Branca Dee Dee Myers. Durante o primeiro mandato do presidente Bill Clinton, continua ela, a assessoria de imprensa da Casa Branca distribuía aos repórteres não apenas textos de discursos, resoluções e coletivas de imprensa como também press releases, informativos, informações de referência sobre políticas, notas à imprensa sobre novos eventos, resumos de discursos e documentos políticos, análises dos pontos mais importantes de um documento e assim por diante.

"Repórteres são pessoas ocupadas, principalmente aqueles que cobrem chefes de Estado e outros líderes de governo", explica ela. "O volume de material que eles têm de cobrir é impressionante." Fornecer material impresso ajuda bastante. Resumir e distribuir material na forma impressa ou on-line significa não precisar depender da compreensão correta de um discurso ou uma declaração. Também proporciona ao porta-voz uma outra oportunidade de reafirmar os pontos principais, diz Myers.

Nos Estados Unidos, sempre que possível, as assessorias de imprensa redigem e distribuem à imprensa, em papel ou pela internet, declarações, políticas, ações e planos. Isso tem várias utilidades:

  • Ajuda as autoridades do governo e os assessores de imprensa a definir claramente o que querem dizer e a refinar sua mensagem.
  • Aumenta as probabilidades de que a mídia entenda as informações corretamente, reduzindo as más interpretações.
  • É algo que os repórteres podem consultar quando estiverem redigindo suas matérias.
  • Evita ter de responder às mesmas perguntas várias vezes porque as informações básicas são fornecidas.
  • Estimula a elaboração de perguntas mais pertinentes, baseadas em fatos, por parte da mídia.
  • Aumenta as chances de que a matéria saia com a ênfase desejada.

Fornecer resumos e análises com uma declaração ou um discurso também possibilita à assessoria de imprensa reafirmar sua interpretação das notícias.

Nos Estados Unidos, as comunicações escritas assumem muitas formas. Além disso, as assessorias de imprensa têm diversas ferramentas - visuais e orais - para se comunicar com o público por meio da imprensa. Algumas das ferramentas de comunicação mais comuns são:

ilustração

Press release, que é redigido como um artigo de jornal e às vezes utilizado como texto de artigos jornalísticos por algumas publicações. Press release é a narrativa de uma notícia em uma ou duas páginas. Deve informar quem, o quê, onde, quando, por quê e como no primeiro parágrafo, como em uma reportagem jornalística. O press release deve seguir o estilo de uma pirâmide invertida, citando as informações por ordem de importância de modo que os editores possam identificar facilmente os fatos principais. A informação-chave corresponde ao topo da pirâmide e as notícias menos importantes, à base.

Nota à imprensa, que é semelhante a um press release, mas preparada para anunciar um evento futuro, de modo que a mídia possa avaliá-lo rapidamente e decidir se deve relatá-lo ou não. A nota à imprensa também deve incluir quem, quando, onde, por quê e como. Deve ocupar apenas uma página.

Informativo ou histórico, que é um press release expandido com informações detalhadas sobre um assunto. Utiliza fatos e estatísticas, mas geralmente não faz citações e é distribuído junto com o press release. Estendendo-se por quatro ou cinco páginas, o informativo ou histórico deve ser fácil de ler e utilizar marcadores ou negritos para cada fato novo.

Ilustrações como fotos, gráficos, quadros e mapas que acompanham os press releases.

Biografia, que é fornecida com o press release. A biografia resume o histórico profissional e as realizações de uma pessoa que está sendo indicada para um novo cargo, apresentando um discurso ou participando de um evento.

Uma lista de especialistas para reforçar sua mensagem. A lista deve incluir nomes e números de telefone.

Outros textos, que podem incluir todos os tipos de material. Na Casa Branca, por exemplo, as transcrições de comentários do presidente e de informes diários do secretário de imprensa e de outros assessores são fornecidas à mídia logo após a realização dos eventos. Resoluções, declarações, anúncios de indicações e nomeações de funcionários, cartas de especialistas ou de associações profissionais em apoio à legislação proposta e outros tipos de correspondência de e para o presidente também são distribuídos diariamente à imprensa.

Clippings, que mostram essencialmente as "boas" reportagens que foram publicadas. Os assessores geralmente tiram cópias de artigos jornalísticos favoráveis a eles e as colocam em kits para a imprensa junto com outros materiais.

Perguntas, que às vezes os assessores fornecem aos repórteres para aguçar seu interesse em um tópico. Também é possível redigir algumas perguntas para os entrevistadores fazerem a um assessor. Perguntas imaginativas despertam a curiosidade.

Kits Press, que contêm vários itens sobre um determinado tópico. Os itens são inseridos em uma pasta que tem dois bolsos internos para guardá-los. No caso da inauguração de uma nova escola, por exemplo, o kit para a imprensa pode incluir:

  • Uma pasta com o logotipo da escola na capa e duas abas internas para guardar material impresso.
  • Uma nota à imprensa com detalhes sobre a hora e o local da inauguração, bem como sobre sua importância.
  • Um press release com detalhes específicos da inauguração, informações gerais e citações de autoridades importantes sobre a escola.
  • Um histórico para a mídia com estatísticas e fatos detalhados, como dados específicos sobre a construção, número de alunos que freqüentarão a escola, etc.
  • Biografia dos oradores do evento.
  • Ilustrações, como fotografias da escola.

Sugestão de pauta, que resume a idéia de uma matéria em um parágrafo e explica por que os leitores - ou expectadores - se interessarão por ela. A sugestão de pauta ou o telefonema fornece detalhes, cita nomes, descreve oportunidades fotográficas e resume o conceito da matéria.

Press releases em vídeo e áudio, que informam quem, o quê, quando, onde, por quê e como, assim como o press release impresso, mas são apresentados como uma reportagem de rádio ou televisão. As emissoras podem usar todo o material ou parte dele em uma matéria jornalística para rádio ou televisão e identificar o material como proveniente de uma fonte de relações públicas. O press release em vídeo deve ser apresentado em trilhas de áudio separadas, com o narrador em uma trilha e os trechos de falas e sons naturais em outra para facilitar a edição do som.

Tecnologia por satélite, que permite reunir-se com a personagem da notícia ou entrevistá-la e transmitir as imagens ou a notícia para as estações de televisão de todo o país. Essa tecnologia proporciona um tour de imprensa sem gastos com viagens nem perda de tempo. Em geral, os especialistas em informação pública gravam um evento e então compram tempo do satélite para transmiti-lo. Para isso, é necessário um estúdio que possa transmitir imagens e sons ao vivo e possa dar aos repórteres da televisão a oportunidade de fazer perguntas por telefone enquanto se grava a autoridade dando as respostas. As estações precisam ser notificadas de quando a transmissão por satélite estará disponível e como acessá-la.

Sonora, que é a gravação em áudio de uma autoridade do governo fazendo uma pequena declaração, como se estivesse em uma entrevista real. Alguns políticos norte-americanos gravam declarações diariamente em horários regulares e as transmitem diretamente aos repórteres ou fornecem a eles o número de uma secretária eletrônica que contém a declaração. Para isso, é necessário um gravador de boa qualidade conectado a um telefone. O material também pode ser colocado na web para transferência por download.

Linha Privada, que pode ser utilizada para gravar a agenda diária de uma autoridade governamental para referência.

Coletivas de imprensa, nas quais os assessores anunciam notícias sobre determinado assunto. Para serem eficazes e dignas de crédito, as notícias devem ser oportunas e genuínas.

Entrevistas, que dão aos assessores uma chance de falar com um repórter, em geral diretamente, e expor suas idéias de uma maneira mais profunda do que em uma coletiva de imprensa.

Conselhos editoriais, que são reuniões entre a personagem da notícia e o editor da página de editorial de um jornal, editorialistas, articulistas e repórteres de seções de notícias para discutir um tópico. As principais redes de televisão e TV a cabo também fazem reuniões similares. O conselho editorial pode dar a uma autoridade governamental a oportunidade de explicar mais claramente suas idéias, o que pode levar a mídia a compreender melhor as políticas do governo e quase sempre resulta em reportagens jornalísticas e editoriais.

Reuniões off the record, nas quais os assessores se reúnem com os repórteres para fornecer informações básicas ou contexto para tópicos de interesse jornalístico.

Artigos e colunas que as personagens das notícias utilizam para expressar suas opiniões. Alguns políticos redigem uma coluna semanal para expressar suas opiniões diretamente para o público.

Discursos, que são utilizados para promover políticas, revelar novos programas, explicar posições e obter consenso. Cópias de discursos são fornecidas à imprensa antecipadamente e enviadas a jornalistas interessados que não podem comparecer a um evento da mídia. Colocar discursos na internet também ajuda. Se possível, ao distribuir um discurso, comece com um resumo do material para dar aos repórteres uma sinopse do tema principal. Guarde sempre uma lista das pessoas para quem o material foi enviado.

Tours de imprensa, que vão além da capital e alcançam a mídia regional. Os tours de imprensa devem fornecer à imprensa local notícias relacionadas com a sua região e explicar como os cidadãos serão afetados pelas políticas do governo.

Features, que contam uma notícia de uma forma mais leve. Os especialistas em informação pública não se baseiam apenas nas seções de notícias importantes da imprensa quando redigem seus artigos, mas usam os features e outras seções também.

Internet, que é um meio de se comunicar diretamente com o público sem o filtro da mídia. A rede também proporciona rápida comunicação com os repórteres. Além disso, a internet possibilita o vai-e-vem de mensagens entre as autoridades governamentais e o público. As assessorias de imprensa podem estabelecer seus próprios boletins eletrônicos locais. A internet tem de tudo: texto, imagens, vídeo e som. As assessorias de imprensa do governo também utilizam a rede para encaminhar os usuários a um grande número de documentos originais on-line. Para ser eficaz, o site precisa ser atualizado com freqüência.

E-mails que incluam endereços eletrônicos de grupos de modo que, com um simples comando do teclado, as informações são facilmente transmitidas para diversas pessoas interessadas.

Fotográfias ou photo ops, que permitem a um assessor tirar uma foto com outros cidadãos, como os ganhadores de um prêmio, para enviar ao jornal da cidade natal dessas pessoas para publicação. Ao tirar uma fotografia e enviar pelo correio, não se esqueça de identificar as pessoas na foto e o evento.

O material disponível para a imprensa pode ser de interesse somente para alguns repórteres. Na sala de imprensa da Casa Branca, por exemplo, os jornalistas normalmente lêem e depois devolvem o press release porque não vêem relação com o que estão cobrindo. Mas é importante que ele esteja disponível para os que desejam e precisam dele.

Como Lidar com a Mídia?

O que fazer

  • Diga a verdade - SEMPRE.
  • Seja honesto e preciso. Sua credibilidade e reputação dependem disso.
  • Reconheça quando não souber a resposta a uma pergunta. Se ofereça para obter a resposta e faça isso o mais rápido que puder.
  • Corrija erros imediatamente. Afirme que não deu uma resposta adequada e que gostaria de esclarecer a confusão.
  • Evite o uso de jargões. Fale em linguagem clara.
  • Suponha que tudo o que fala é on the record.
  • Seja o mais aberto possível com a mídia.
  • Ligue para os jornalistas caso uma matéria incorreta seja publicada. Aponte e comprove o erro educadamente.
  • Mantenha uma lista de realizações. Atualize-a com freqüência. As coisas acontecem com tanta rapidez que você pode esquecer o que você, a autoridade e seu ministério ou o governo realizaram.
  • Sempre retorne as ligações, ou peça que um assistente o faça, a tempo de os jornalistas cumprirem seus prazos.
  • Tente obter as informações que os jornalistas querem, mesmo que isso signifique um esforço extra, como ficar até tarde no trabalho ou entregar o material em mãos.
  • Tenha senso de humor.

"A frustração é quase sempre intrínseca à função", diz o ex-porta-voz da vice-presidência David Beckwith. "A menos que você tenha senso de humor, trata-se, na verdade, de uma atividade cruel."

O que não fazer

  • Não minta - JAMAIS.
  • Não diga "sem comentários" - JAMAIS.
  • Não improvise, não especule e não conjecture. Bons repórteres verificam os fatos. Se você estiver errado, sua credibilidade será destruída.
  • Não tente tornar "off the record" uma informação depois de já prestada.
  • Não deixe de colaborar.
  • Não crie notícias sem ter em mãos as informações necessárias. Não faça um anúncio e depois prepare o press release e os informativos. Se você tiver o material preparado antes de uma coletiva, poderá usar o tempo depois do anúncio para explicá-lo à imprensa.

Corrigindo Erros

Se suas declarações forem distorcidas em uma matéria ou se uma informação errada for dada, tome providências imediatamente. Converse com o jornalista. Não faça ameaças. Tenha fatos para fornecer e considere que tudo que disser para corrigir o erro será on the record. Se não conseguir nada com o jornalista, vá até o editor.

Você pode pedir retratação ou correção de um erro e muitas autoridades fazem isso. Mas outros acham que trazer a questão à tona somente mantém a informação errada no noticiário. Com a internet, no entanto, notícias incorretas podem ser acessadas continuamente. Por essa razão, solicitar uma correção é quase sempre o caminho a seguir. Na verdade, a atitude a ser tomada depende do erro e de sua gravidade. Mas, no mínimo, você deve contactar o jornalista e corrigir a informação errada ou a citação incorreta.

  • Não minta.
  • Não dissimule. Se você mentir ou encobrir um fato, você perde sua credibilidade.
  • Não evite telefonemas de jornalistas.
  • Reconheça o problema
  • Explique como está sendo corrigido.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Escrevendo para Web

Um dia um aluno me perguntou: o que quer dizer webwritter? Fiquei meio atônito, porque poderia dizer, simplesmente, que o termo significa "escrever para web" ou definir quem é este profissional e qual suas funções. Eis aqui uma questão de nomenclatura que pode ser mais complexa do que aparenta à primeira vista. Como definir o nome de sua atividade? Webwriter? Redator de web? Jornalista? Conteudista? Tudo depende, em grande parte, do tipo de serviço que você é capaz de oferecer ao cliente.

Quando um profissional é contratado para administrar todo o conteúdo (jornalístico e publicitário) de um portal é convencionalmente chamado de Editor ou Gerente de Conteúdo. Já o colega que tem a função de correr atrás das últimas notícias continua sendo um repórter do portal para o qual trabalha. Existem ainda aqueles jornalistas incumbidos de produzir textos opinativos - artigos - ou simplesmente de formatar o site utilizando testículos e ícones que facilitem a navegação, como FAQs.

Embora divididos em funções, todos podem ser considerados webwritters. Assim sendo, este é mais um caso onde a praticidade supera o preconceito. Como a profissão ainda é nova, muitos criadores de conteúdo preferem se apresentar simplesmente como redatores, o que não deixa de ser elegante e discreto. O mais importante é que você esteja bem à vontade com a definição que escolher. Porque o nome de sua profissão é tão importante quanto a expectativa depositada nele por você e por seus clientes. Veja o que diz o jornalista Bruno Rodrigues, autor do livro Webwriting.

...Webwritter é o profissional que atua em mídias digitais, tendo como objeto de trabalho não só o texto propriamente dito, mas também toda e qualquer informação textual ou visual que seja veiculada. Sendo assim, sua preocupação não deve estar restrita à precisão, qualidade e criatividade do texto, mas também a questões ligadas à organização e à facilidade de acesso à informação. Tendo em vista atuar em um segmento típico da Era do Conhecimento, necessita adotar uma postura diferenciada em relação aos redatores tradicionais, assumindo um paradigma construtivista, onde promover, instigar e facilitar o diálogo seja uma prioridade constante...

...Também não pode esquecer que nas mídias interativas o poder está todo nas mãos do usuário, o que faz com que seu texto precise assumir sempre uma postura persuasiva. Assim, conhecimentos de marketing são fundamentais para um bom desempenho profissional, bem como intimidade com o meio digital. Conhecimentos de estatística e domínio de softwares de medição de audiência também são importantes...

Dicas para melhorar seu webtexto!

HIPERTEXTO

O grande diferenciador de linguagem na Internet é o hipertexto. Ele cria uma nova sintaxe porque num mesmo texto você pode se remeter à vários outros oferecendo ao leitor uma gama variada de conteúdos.

QUALIDADE

O critério de qualidade do texto vale tanto para a Internet quanto para o papel. Não há linguagem nova que desobrigue o texto de ser bom, legível, compreensível. O texto só ganha vida quando é consumido e entendido pelo leitor.

DIMENSÃO

Um texto para internet tem que ter o tamanho que a informação exigir. Na informação rápida não se pode esquecer de um ponto crucial: o porquê. Quem entra na Internet quer saber o porquê dos fatos. A velocidade não supera a qualidade da informação, tem que ser um "plus". A internet deve funcionar como um banco de dados e não apenas como um veículo de informação.

RACIOCÍNIO

Antes de se sentar ao computador e blablablá, blablablá, pare e pense! Forme um raciocínio. Você não vai escrever direito na web se não pensar direito.

APERFEIÇOAMENTO

A alma do webwriting é a busca de aperfeiçoamento; webwriting é um raciocínio constante de como distribuir informações pelos ambientes digitais. A isso damos o nome de arquitetura da informação: o principal caminho do webwriter no futuro. Não esqueça: se o texto não for persuasivo, adeus! Seja objetivo e agregue boa navegabilidade ao seu conteúdo. Coloque as informações onde o usuário quer encontrá-las.

ROTEIROS

É muito importante conhecer a estrutura de um roteiro, saber contar uma história.

CADÊNCIA

O texto na internet deve ter cadência como uma boa música: envolva o internauta para que ele se sinta atraído a ler a idéia seguinte. É preciso, o tempo todo, estar próximo do leitor, levando em conta que as pessoas navegam de forma intuitiva e não racional. Escreva textos envolventes, soltos, sintéticos; respeite a pontuação e saiba explorar os atributos de uma marca quando seu objetivo for publicitário e não jornalístico. A idéia principal deve estar em evidência logo no começo do texto.

SINTONIA

Quanto às ferramentas de propaganda online, o pop-up, por exemplo, dá muito resultado, mas é preciso respeitar o consumidor, acertar o passo com o usuário.

PORTUGUÊS

É importante estar atento ao português. Embora o inglês seja a língua dominante na rede, não é nossa língua nativa. Por isso, mais de 90% do tráfego na internet acontece dentro do país. Há uma preferência por sites de língua portuguesa.

INTERPRETAÇÃO

O webwriter pode trabalhar a notícia online agregando à instantaneidade um tratamento de colunismo, de comentário. Na rede, há um excesso de informação que o webwriter pode capturar e traduzir para o internauta. Mas é preciso muito cuidado com textos longos, por isso, usar bem os links é uma questão vital.

COMBINAÇÃO

Entre o texto jornalístico e o publicitário (predominantes na Internet) há uma linguagem escrita própria da rede que agrega estas duas características, entre outras. Quanto melhor a mistura, maior a eficiência do texto. Uma boa receita pode ser a seguinte: um texto comprometido com os fatos, com a verdade, mas com um toque muito pessoal de persuasão.

PARCERIA

Não existe webwriting sem webdesign. A palavra conteúdo vem do inglês content, que designa o conjunto de informações veiculadas via Internet, a soma entre texto e design. A harmonia entre os dois é o ideal e depende da qualidade da parceria entre o webwriter e o webdesigner.

OBJETIVIDADE

Economizar tempo é chave na rede. Vá direto ao assunto. Torne acessível a informação que o internauta procura. Use o princípio da pirâmide invertida onde a informação principal vem logo no primeiro parágrafo.

CONCISÃO

Dê preferência a textos curtos. Mas não deixe faltar informações. Se o tema abordado for complexo utilize o link, a principal ferramenta do webwriter. A habilidade em usar os links é o ponto fundamental para um texto conciso e com informações completas. Habitue-se a focar o que é estritamente relevante numa informação, lembre-se da tecnologia Wap: O tempo é curto e o espaço pequeno.

INTERATIVIDADE

É o princípio básico da rede. Converse com seu leitor. O bom texto para a Net é um convite para que o internauta participe, seja lá como for.

VISIBILIDADE

Normalmente, o internauta não lê o texto, ele escaneia o texto procurando pelo ponto chave da informação. E a poluição visual não está só nas ruas das grandes cidades. Está na Web também! O excesso de informações numa página deixa o internauta confuso e cansado. Há diversos recursos tecnológicos para resolver este problema: Home pages intermediárias, menus pull-down e banners criativos são alguns deles.

NAVEGABILIDADE

A precisão desta característica depende da qualidade da parceira entre webwriter e webdesigner. O texto não pode ser tratado como uma peça isolada numa webpage, ele deve integrar-se ao design tornando acessíveis e atraentes as informações. Assim, é muito mais fácil fisgar o visitante! A utilização correta do link é a maior responsável pela boa navegabilidade de um site. Use toda a tecnologia disponível a favor do seu texto!

ARQUITETURA

A grande ferramenta para melhorar a visibilidade de seu texto é a “Arquitetura da Informação”, ou seja, refletir sobre a melhor maneira de disponibilizar as informações num site criando um projeto adequado para organizá-las, como numa obra de cimento e tijolos. Coloque uma idéia em cada parágrafo, use títulos, subtítulos, intertítulos e sumários.

LINGUAGEM

Dê preferência à uma linguagem informal, leve, coloquial. Se puder, escreva como se estivesse conversando. Mas não tenha isto como uma regra imutável. Há casos (como em sites corporativos ou trabalhos acadêmicos) nos quais é necessário usar a forma culta ou formal.

ORTOGRAFIA

Todo mundo está te olhando. Se a sua profissão é escrever para a Internet, você pode criar neologismos e usar os jargões e gírias próprios da rede, mas não pode cometer erros gramaticais. Estude gramática!

HUMOR

O ambiente da Web é predominantemente bem humorado. Dê preferência ao texto leve, mas sem exageros. O importante é que o humor seja criativo e acima de tudo muito bem dosado.

CRIATIVIDADE

É preciso ser criativo ao redigir um texto para a Web. Pense e repense sobre a construção dos textos e como distribuí-los melhor no site. Procure soluções criativas, inove, crie, mas não viaje demais, principalmente se o assunto for conteúdo corporativo ou para intranets onde o webwriting tem características específicas.

CONCLUSÃO

Esqueça tudo que você leu até agora e aprenda a pensar... pensar... pensar... Escrever na Internet é um exercício constante de refletir sobre o conteúdo. É estar antenado o tempo todo com tudo que está acontecendo no mundo online. Não esqueça: Nada na rede é definitivo!

* Robson Fraga - http://robsonfraga.blogspot.com / http://oficinasdejornalismo.blogspot.com

sábado, 22 de agosto de 2009

Minha primeira visita ao psicanalista

Texto de Brenda Leal para o caderno temático da próxima edição da revista.

Quantas vezes digitei esse título no Word e não consegui desenvolver? Não sei, talvez umas 7, ou 8, ou até mesmo 10 vezes. Pensei, repensei, olhei minhas anotações e nada, que eu considerasse, profundo o bastante surgia. Foi então que eu me lembrei o que a “minha psicanalista” falou: as coisas que devem ser ditas vão surgindo aos poucos. Então eu pensei: o que eu não consigo escrever é o que eu quero dizer ou o que eu não quero que saibam? Decidi me desarmar. Vamos aos fatos.

Propus-me a procurar um psicanalista, nesse momento minha análise começa. Cheguei na hora marcada num sobrado muito romântico na zona sul, mas tudo vai desmoronando aos poucos. Já na recepção me deparo com pessoas descalças, comida macrobiótica, crianças com os dedos sujos de tinta, eu repleta de preconceito, ri por dentro e pensei: centro Hare Krishna era tudo o que eu precisava, logo estarei entoando mantras e raspando a cabeça.

Estava tranqüila, até começar a subir as escadas que rangem e o meu coração começar a pulsar mais forte e minhas mãos suavam também. Mais uma vez me frustrei, não era um consultório, era uma sala confortável com almofadas, luz baixa, formando um ambiente tranqüilo. Tudo o que eu não queria. A psicanalista e não “O” , como eu desejava, abriu um sorriso e me disse: diga lá. E eu só conseguia pensar: diga lá o quê? Toda a tranqüilidade aparente se transformou num desconforto absoluto. Como eu gostaria que ela fosse austera do tipo que faz perguntas diretas, dá os diagnósticos e te manda voltar na semana que vem para saber como evoluiu o seu caso.

Assim como fiz aqui, decidi me desarmar, e assustadoramente as coisas foram saindo, foram buscando-a e quando percebi estava lá eu, arrebatada por aquela figura feminina, gentil e inteligente. Fui lá querendo conhecer o processo de análise e sai de lá me conhecendo muito mais, não conseguia me concentrar em nada ao longo do dia, só em mim e pela primeira vez em muito tempo fiz isso sem culpa. A primeira visita se transformou em segunda, com ela surgiu a ansiedade da terceira e percebi que não tem diagnóstico, não tem caso clínico e muito menos consulta, tudo faz parte de um processo de descoberta, não tem mágica e nenhum mistério. Continuo “freqüentando” a psicanalista e deixando meu inconsciente agir. O que eu espero do próximo encontro? Nada, parei de me preparar.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Militantes da ditadura da década de 60 e os usuários de drogas dos dias de hoje

Sim, militantes e usuários têm coisas em comum. Se voltarmos no tempo para entender a revolta dos jovens militantes que lutavam contra um governo ditatorial e a favor de uma real democracia entre a população e a revolta interna de um usuário de drogas que é capaz de destruir sua saúde para que alguém os ouça, você vai ver que eles têm coisas em comum.
O envolvimento da classe média nos dois movimentos, a angústia dos pais que ficam em casa sem notícias dos filhos que podem estar presos ou sendo torturados tanto por militares como por seus traficantes, também pode ser um quesito de união entre eles. Imaginar que o seu filho, educado nas melhores escolas da cidade, pode estar sendo observado ou perseguido, não deve ser o melhor dos sentimentos.
E o que falar sobre a insatisfação quanto ao que o mundo tem a lhes oferecer? A necessidade de se mexer para mudar o cotidiano em que se encontram ou possuir um sentimento latente de envolvimento e aceitação no grupo, são coisas a serem pensadas que fazem parte das duas categorias de jovens.
Observar que as universidades estão atentas àqueles que queimam seu cannabis no pátio, nos faz remeter à época de militares infiltrados em salas de aula que coagiam qualquer grupo envolvido na luta socialista. E acima de tudo, ter a certeza que esses dois grupos se igualam ao observar seus sofrimentos atrás de uma luta que não comporta vitórias e vitoriosos.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Notícias

Difícil da gente que trabalha com notícia estar do outro lado e receber a notícia que a gente não quer. Saber que engrossa a estatística do desemprego no Brasil, sem grandes previsões de nova contratação, disputando não apenas com as novas Fatimas Bernardes da comunicação, como também com aqueles que sequer sabem sobre a Escola de Frankfurt.
Saber que na sua empresa você virou a notícia da rádio corredor, porque você mandou esvaziar sua mesa antes do prazo solicitado pela sua chefe para você cumprir o aviso prévio. Ou até mesmo porque você apenas fez uma pergunta na reunião do departamento que desagradou todo mundo.
Notícia que hoje em dia se torna cada vez mais dinâmica, mas que se você encontra uma informação, um nome que seja, na página do obituário, pode te marcar pra sempre. Notícia que ex-namorado nos dá e que faz a gente passar pelas 5 fases da mudança, começando pela negação sempre. Sempre começa pela negação, incrível.
Notícia que a gente se acostuma a trabalhar, mas que a gente nunca está pronto pra receber...

quinta-feira, 23 de julho de 2009

A comunicação e o comunicador



Pensar o jornalismo moderno sem os meios eletrônicos é tarefa impossível. Não identificar a importância da imagem, da instantaneidade da internet e da velocidade em que se multiplicam as informações é perder a lógica da comunicação atual. Temos que pensar a notícia de forma integrada. Estamos cercados de meios, mas esquecendo de determinar seus fins. Esta pluralidade pode significar o estrangulamento da informação pela diversidade das mídias.

É preciso estar atento. Quando o telejornalismo surgiu no Brasil, nos idos de 50, chegamos a profetizar o fim do rádio como veículo jornalístico. Por um momento acreditamos que a divulgação de imagens poderia dar fim a comunicação verbal. Algum “vanguardista de plantão” exclamou aos quatro ventos: “a imagem diz mais que qualquer palavra”, mas para o bem da comunicação social ele estava errado e ficamos felizes em ver o surgimento das rádios all news no fim da década de 90.

O rádio é e talvez por muito tempo ainda continuará sendo o veículo de informação mais democrático da era moderna. A radiodifusão une pessoas das mais diversas raças, classes socioeconômicas e nível intelectual. O alto executivo ouve a Lúcia Hipólito, na CBN, e fica informado sobre a redução do IPI do mesmo jeitinho que seu João, um hulmide lavrador, descobre na voz do Canázio, pela AM, que agora pode comprar sua primeira geladeira porque agora o preço caiu.

A televisão tem sua força e seu espaço. Em tempo real nos mostra como é a vida do outro lado do mundo. Mesmo quem não sabe ler ou escrever consegue entender que na China as pessoas não usam garfos para comer macarrão, o fazem com o auxílio dos “palitinhos”. Dá até pra rir disso e ficar informado ao mesmo tempo. Também através da telinha podemos entender que a Tsunami é uma “onda do mar revoltada” que destrói tudo que vê pela frente, sem que para isso precisemos ser especialistas em meteorologia.

A imagem diz muito sim; marca momentos, locais e, por vezes, expressões impossíveis de serem narradas como a cara de um político ao ser desmascarado em rede nacional. Mas, quase sempre, precisa de complemento. A simples imagem da enchente de um rio pode ter diferentes significados. Para que seja compreendia claramente carece de apoio: é preciso localizar o fato, identificar os envolvidos, causas e conseuências, seja através da locução ou da inserção de legendas. A palavra exerce seu papel de encadeadora do raciocínio em qualquer veículo. Cabe ao jornalista moderno essa “simbiose”.

Hoje vivemos a era da informação digital. Estamos cercados de portais, sites, blogs. Temos o Orkut, o Twitter, o Hi5... A cada instante recebemos um novo e-mail cheio de informações ou novas “fofocas” pelo MSN. Os scpraps estão aí! Até mesmo o celular perdeu sua função prerrogativa e agora serve como display para notícias das mais variadas. A “terceira guerra mundial” está aí e, nós comunicadores, precisamos nos armar!

Quem hoje em dia, nos grandes Centros, consegue se ver livre da internet? Nessa rede mundial é possível descobrir o mundo, entender a política, a economia, fazer pesquisas escolares, bater-papo e ainda ver as últimas gatas da Playboy? A sociedade moderna exige novas informações a todo instante e precisamos qualificá-las porque queiram os magistrados ou não, somos jornalistas por formação. Temos que alimentar a rede com notícias, números e informações de toda natureza na velocidade digital. Não temos tempo à perder!

Precisamos nos preparar. Entender que o rádio está presente no dia-a-dia da sociedade e que fala para todos os que podem ouvir, sem pedir licença! Não podemos desqualificar o veículo muito menos o ouvinte. Ao escrever "pro Rádio" lembrem-se do seu João lá do sertão da Bahia. Para ele “Redução de IPI” significa apenas que o preço da geladeira baixou. Então se faça entender!

Ao redigir pra TV não esqueça: tudo aquilo que pode ser mostrado não precisa ser dito! Mesmo as pessoas de raciocínio lento rapidamente entendem quando uma matéria é repetitiva, cansativa e chata. Ganhe tempo; corte palavras. Utilize mecanismos como “sobe som”, “respiro”, “insert”, “videografismo”, tabelas, etc., para dar velocidade à informação e tornar seu VT mais atraente. Se for entrar ao vivo preste atenção para não repetir aquilo que foi dito por um entrevistado. Mais ainda, não responda às suas próprias perguntas!

Quando for pensar num texto para internet fique atento: por mais horas que se passe diante do computador ninguém “tem saco” para textos intermináveis. Os links e hiperlinks servem exatamente para suprir o leitor de detalhes sobre determinada matéria. Só quem realmente precisa aprofundar-se em determinado tema irá clicar ali. Portanto, seja breve: privilegie as informações mais importantes no seu texto. Na web tem mais peso o que acabou de acontecer! Junte a isso imagens interessantes numa mesma janela utilizando plug-ins!

O jornalista que pretende sobreviver nos dias atuais precisa ser versátil, inteligente. Sagaz ao ponto de perceber as diferenças entre os veículos, suas funções, seus públicos-alvo. Só assim é possível escrever, falar e mostrar informações coerentes. Seja no rádio, na TV ou na Web só há vagas para profissionais bem "formados", informados e com facilidade de adaptação. Qualifique-se se de fato quiser fazer valer o diploma de jornalista. Caso contrário, o Gilmar Mendes terá razão!

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domingo, 19 de julho de 2009

Amigo

Há dias em que nada tem graça:
A lua brilha sem luz,
O Sol arde sem queimar,
E a água não mata a sede.

Tudo a nossa volta é vazio.
As palavras não se encaixam,
Os pensamentos são fúteis,
A vida treme no fio da navalha.

Os livros já não tem mais significado.
Os discos não conseguem aconchegar...
A tela do micro é uma pedra de gelo
E o carteiro se esquece de chamar à porta.

As curvas da estrada já não dão emoção.
O ronco do carro agora é barulho!
O locutor é um chato desmedido
E nem mesmos as propagandas conseguem fazer sinal.

Estamos cercados da mesmice!
A casa é mesma,
O corpo ao lado é só corpo,
A bagunça na sala já não traz alegria.

A solidão parece um caminho.
O roleta russa uma obsessão!
Mas na hora do gatilho, o último sentido:
A voz do amigo.

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quarta-feira, 15 de julho de 2009

A Ditadura da Boa Idéia

por Pedro Rampazzo

Uma das discussões mais produtivas que me envolvi, em 2009, foi sobre a defesa da “idéia”. Tenho um amigo, inteligentíssimo, que acha que o principal na vida é ter “boas idéias”. Durante um tempo, também acreditava que grandes idéias moviam o mundo. Errado! O que move o mundo são ações. E no audiovisual, como em todas as outras áreas que conheço, também é assim. Nos dias atuais, com a velocidade do tráfego de informações, uma boa idéia não é quase nada: pode durar apenas alguns minutos. Todo mundo tem boas idéias para um filme, mas poucas chegam a um roteiro e menos ainda a uma obra audiovisual. Por quê? O caminho é longo e cheio de ladeiras (parece Olinda). Comecei a me interessar por vídeo e cinema faz uns dois anos. Tudo começou com uma idéia: virar cineasta! A partir daí comecei a ver possibilidades audiovisuais em tudo. O cinema, por possuir movimento, é muito parecido com o mundo, com as pessoas e as situações, é fácil enxergar cinema em tudo, difícil é realizar... difícil e muito mais prazeroso que pensar e ter idéias. Em 2005, fui a um festival de música popular que existe na cidade do Cabo de Santo Agostinho (PE) e, tomando umas cervejas debaixo de um sol escaldante, ouvi (estava de costas para o palco) um coro de vozes femininas cantando umas melodias lindas. Como sou militante da música popular (é com isso que trabalho, atualmente), virei para o palco, olhei e me apaixonei de imediato: era o grupo Coco de Tebei que estava se apresentando. Lindo! Fazem música com o corpo. Cantam e batem os pés para marcar o ritmo. Não possuem instrumentos musicais (nem precisa). Voltei para casa com aquela imagem e som na cabeça. Tinha que ver “aquilo” novamente. E a oportunidade veio alguns meses depois. O Coco de Tebei, da pequena cidade de Tacaratu, sertão pernambucano, veio para Olinda, se apresentar no terreiro do saudoso Mestre Salustiano, falecido este ano. Eu e Paloma Granjeiro, minha sócia e amante, fomos para a Casa da Rabeca ver, novamente, este grupo maravilhoso. Antes da apresentação, fizemos contato com os integrantes e propomos um trabalho juntos. Disse a verdade: estávamos apaixonados por aquela brincadeira que eles faziam. Num próximo encontro, acertamos tudo. Foi assim que nasceu o projeto Eu Tiro o Couro do Dançador (2008): CD + DVD com o Coco de Tebei. No CD, gravamos 16 músicas interpretadas pelo grupo e alguns convidados. Para o DVD, produzimos o documentário Tebei, de 21 minutos, gravado em MiniDV, nas cidades de Tacaratu e Recife. O projeto é uma realização da Sambada Comunicação e Cultura (minha empresa com Paloma), com patrocínio do Governo do Estado de Pernambuco e apoio da Cabra Quente Filmes e da Associação Respeita Januário. A direção coletiva é de Gustavo Vilar (historiador); Hamilton Costa Filho (diretor de fotografia) e Paloma Granjeiro (jornalista e produtora fonográfica), além de mim. Nossa principal intenção, com a realização do documentário, foi mostrar para o mundo como vivem aquelas pessoas e divulgar o trabalho artístico delas, único no Estado. A Missão Folclórica de 1938, coordenada por Mário de Andrade, já havia passado por Tacaratu e registrado o coco feito na região. Pena que poucas pessoas tem acesso a este material. Com este primeiro produto audiovisual da Sambada, ficamos empolgados e, incentivados por Hamilton Costa (que é sócio de uma produtora de vídeo), começamos a fazer algumas inscrições em festivais nacionais e, em maio deste ano, ganhamos nosso primeiro prêmio: o Tebei foi o melhor curta digital da Mostra Pernambuco do 13º Cine PE Festival Audiovisual do Recife (2009). Uma boa idéia que deu certo e que está rendendo uma graninha para a Sambada e para o grupo Coco de Tebei, que passou a ter mais visibilidade no mercado musical local. Foi fácil? Claro que não. A realização do projeto durou mais de um ano; envolveu, diretamente, mais de 30 profissionais; custou mais que o valor do patrocínio; agradou e desagradou a muitos... mas, virei cineasta. Empolgado com a “facilidade” das coisas, estou escrevendo meu primeiro roteiro. Não será nada sobre música ou manifestações populares. Será um documentário sobre problemas urbanos que envolvem consumo de drogas e prostituição juvenil. Um tema pesado. Mas preciso fazer, pois agora, vejo cinema em tudo.


Pedro Rampazzo é jornalista, fotógrafo, cineasta (recentemente) e diretor da Sambada Comunicação e Cultura, uma empresa apaixonada pelas artes do Nordeste.

sábado, 4 de julho de 2009

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Castelo Virtual

Juliana Gil

É estranho como o mundo moderno funciona. De certa forma, é como se estivéssemos vivendo em um estado de hibernação desperta. O homem contemporâneo se divide em mil facetas diferentes e não adere a nenhuma; é sufocado pelo constante fluxo de informações, imagens e sons, mas não consegue sair da inércia. Seu corpo e espírito permanecem dormentes, acorrentados por grilhões invisíveis e “gentis” na sua dominação.

Existem tantas opções, tantos caminhos, tantas maneiras de se chegar a um objetivo desejado, mas nunca foi tão difícil encontrar um caminho próprio para trilhar. O homem moderno não tem mais consciência, apenas traços e instruções a serem seguidos sem pestanejar.

Neste círculo vicioso de acordar, trabalhar, descansar e se levantar para ir trabalhar de novo, já não há mais a consciência do eu por si próprio. O ser humano moderno é globalizado, atualizado, “plugado” e “desplugado” do mundo com a rapidez de um piscar de olhos e a crueldade de não se saber agir de outra maneira. A grande ironia é o fato de todas as coisas que a tecnologia e o acesso a informação, quase instantâneo, nos proporcionaram ao longo dos anos, acabaram também por complicar a vida um pouco mais.

A internet, grande responsável pelo grande fluxo de informações no mundo globalizado atual, nos tornou “seres multimídia”, capazes de pesquisar mil informações de mil fontes ao mesmo tempo, de desenvolver uma personalidade virtual, um espaço dentro de nós mesmos capaz de evadir a consciência das pressões do cotidiano.
É possível que com tudo isso tenhamos nos tornado pessoas cada vez mais frias e distantes da realidade. Os relacionamentos tornaram-se cada vez mais superficiais e tudo se tornou muito descartável. A internet nos permite dizer o que pensamos sem ter que responder a ninguém. Permite que ventilemos nossas frustrações sem medo de ser feliz. E na verdade, internamente, não fazemos nada disso. Um desabafo virtual, por mais sincero que seja, é algo que é feito do conforto de casa, através de uma tela de um computador, sem o menor contato onde possam ser percebidos os reais sentimentos das pessoas, fazendo com que dessa forma nunca tenhamos que encarar os nossos próprios demônios internos. Por trás de uma máquina é muito mais fácil ser humano, pensar e dizer coisas boas e bonitas. O mais difícil é viver essa sinceridade na vida cotidiana, e no convívio com as outras pessoas, buscando cada vez mais parecermos seres verdadeiramente HUMANOS, a seres meramente VIRTUAIS.

A questão racial no Brasil

Ana Cristina Ramalho

Cotas nas universidades suprem a carência de indivíduos que sofrem com o preconceito ou ele aumenta diante a esse sistema segregacional?
O possível fim do sistema de cotas das universidades do Rio de Janeiro gera intensas reflexões sobre um assunto, ainda mal resolvido, arraigado no corpo societário: o preconceito racial. Se por um lado há os que defendem a continuidade das cotas devido a uma “dívida histórica” da sociedade para com os negros, por outro, há aqueles que acreditam que a concessão das cotas por etnia acabaria por estabelecer explicitamente uma segregação interracial.
No dia 25 de maio, a Justiça do Rio de Janeiro estabeleceu a suspensão dos efeitos da Lei Estadual 5.346 que prevê o sistema de cotas para parcela de estudantes ingressarem em universidades estaduais. No dia seguinte, a Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro entrou com um recurso no Tribunal de Justiça com o intuito de derrubar a liminar que suspendeu o sistema de cotas raciais e sociais para ingresso nas universidades estaduais, adiando-a para 2010, justificando a ação pelo vestibular desse ano estar bem próximo.

A existência das cotas das universidades e o papel do governo
A criação de cotas pelo governo pura e simplesmente não atinge o objetivo ao qual se predispõe, facilitando, com o respaldo da lei, o ingresso de estudantes ao nível superior. Em conjunto, deveria haver investimentos visando melhorias na qualidade do ensino, dando condições para que todos alunos fossem capazes de entrar em universidades por méritos pessoais. Se com um elevado nível de ensino ainda fosse perceptível a necessidade de determinados grupos de serem incluídos em algum sistema de cotas, ele poderia ser instituído e sua existência nem mesmo seria discutida.
A questão que sempre surge com o debate do referido tema é o porquê de não haver investimentos necessários na área da educação. É simples, o indivíduo quando tem acesso a uma educação de qualidade se torna um ser crítico, sendo assim, é mais prudente àqueles que estão e desejam permanecer no governo criar medidas paleativas para o problema da baixa qualidade de ensino, em vez de realmente saná-lo. E o político envolvido com essas causas ainda angaria alguns votos por dar a entender que deseja, de fato, melhorar o sistema educacional brasileiro.
A imprensa, por sua vez, assume papéis antagônicos sobre o tema. Sob ponto de vista do ideal, seria possível dizer que a imprensa, não possuindo um papel manipulador, defende e acusa a proposta de cotas de maneira genuína, por seus profissionais concordarem e discordarem da temática. No entanto, a realidade se mostra um tanto quanto diferente, sendo possível, sim, que haja profissionais da área que o fazem em prol de ideologias pessoais, mas que, na maioria das vezes, baseiam seu discurso de acordo com interesses dos partidos políticos pelos quais são apoiados.
O preconceito no Brasil atual
O preconceito no Brasil existe em uma intensidade muito maior do que aparenta. A sociedade possui a falsa sensação de que preconceito é coisa do passado e que não existe mais na sociedade contemporânea, no entanto, existe e ocorre (em grande parte das vezes) de uma forma velada, que tende a ser até pior do que se fosse explicitado. O fato de todos serem iguais perante a lei e o Estado significa não que todos devem ser tratados da mesma forma, mas que todos devem receber o tratamento necessário para que tenham as mesmas oportunidades.
No caso das cotas raciais, por exemplo, ocorre um paradoxo de difícil compreensão: o desejo de inserir indivíduos no (infelizmente) seleto grupo de universitários do país através da utilização de cotas que acabam por segregar negros, brancos e pardos, determinado qual grupo terá uma porcentagem de vagas reservadas. No final, o procedimento que fora criado para unificar resulta na separação de pessoas pela cor da pele, isto é, na segregação.
Praticamente impossível algum dia ocorrer a extinção completa de todos os tipos de preconceito, uma vez que é da própria natureza humana julgar pelas aparências ou julgar sem conhecimento específico sobre o assunto ou sobre a pessoa. E, outra questão que acaba fomentando o preconceito, tanto racial, quanto religioso, é o sentimento de vingança que é fomentado na sociedade contemporânea; muitas vezes, determinadas atitudes contra específico segmento racial, cultural, religioso ou social são tidas por grupos que tem como fundamento atitudes da mesma espécie que foram cometidas sobre esses, em algum momento do passado.

E o que é a cor da pele afinal?
Todos os seres humanos são diferentes e exatamente por essa diversidade é que a espécie humana é tão encantadora. Sendo assim, as diferenças deveriam ser vistas de maneira positiva, como forma de aprendizado de uns com os outros e não como justificativa para qualquer tipo de preconceito. A diferenciação racial, sob o ponto de vista dos biólogos, não existe, visto que, é apenas a melanina o fator diferenciador, sendo esta denominação vigente somente na ordem social. A cor da pele nada mais é do que aparência, no Brasil ao menos, não existe mais (se é que já existiu) a imagem do índio puro, negro puro ou do branco puro, a miscigenação deu fim a isso. Os portugueses (holandeses, franceses, ingleses, italianos e assim por diante) desde sua chegada difundiram seus genes europeus entre os negros africanos e as tribos indígenas que aqui viviam, resultando nessa população diversificada e reconhecida mundialmente pela beleza.

“Vocês têm negros no Brasil?”
“Sim, nós temos com muito orgulho, sr George W. Bush. Todos nós somos, temos parentes ou amigos que são, graças a Deus e à maravilha da miscigenação”. Não sei se foi essa a resposta dada pelo então Presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, ao ser indagado, mas, sem dúvidas, deveria ter sido.
Até o momento, não se sabe ao certo quando (e qual) será o desfecho da suspensão das cotas em universidades, no entanto, será ainda mais gratificante o momento em que o Brasil poderá ser considerado verdadeiramente um país livre da sombra ignorante do preconceito.

Arte X Indústria cultural

Jéssica Lima

Os tempos mudaram. Os movimentos artísticos já não marcam tão fortemente os grandes momentos históricos, os quais também parecem estar se dissipando na lembrança da maioria das pessoas. Ambos sofreram uma espécie de esmaecimento ao longo dos séculos. A sociedade não mais atribui a devida importância à História, talvez porque a arte, o que a influenciava direta ou indiretamente, deixou de seguir os parâmetros até então conhecidos.
Até meados do século XIX, o artista desvendava os fenômenos sociais através do sentimento artístico, posteriormente traduzido em obra de arte, e não ganhava dinheiro com isso. Pelo contrário, muitas vezes, suas obras somente faziam sucesso após anos de sua morte. Com as transformações culturais trazidas pela aproximação do século XX, a cultura deixou de ser dividida em “arte superior” (erudita) e “arte inferior” (popular), passando essas duas formas de cultura, absorvidas e digeridas, a integrar a chamada cultura de massas. Esse novo tipo de cultura é a aglutinação das culturas erudita e popular. Nesse caso, “aglutinar” é o termo que melhor define a situação, pois significa a adjunção de dois sentidos originariamente distintos que perderam a individualidade. A cultura de massas surgiu a partir do advento dos jornais, da fotografia, do cinema (meios de reprodução técnico-industriais) e foi intensificada pela crescente presença dos meios eletrônicos de difusão, isto é, o rádio e a televisão. A cultura de massas foi considerada por diversos teóricos da comunicação (frankfurtianos e apocalípticos, como Theodor Adorno) como um instrumento de produção de mentes massivas, perpetuando uma única visão de mundo. Eles afirmavam que a verdadeira cultura favorece a singularidade e a capacidade crítico-reflexiva. Em virtude dessa oposição, a melhor denominação para cultura de massas seria indústria cultural, visto que por trás desse emaranhado de significações estaria somente a preocupação máxima com o lucro. A indústria cultural simplifica as artes erudita e popular para o mercado, oferecendo-as como produto à sociedade sob a forma do entretenimento, que, por sua vez, possui um caráter falsamente positivo. Nesse momento, o “artista” deixa de desvendar o mundo e passa a lucrar com o sistema. A arte foi transformada em mercadoria, perdendo sua capacidade de induzir ao momento de reflexão e portanto, cultivando o terreno da repetição e da ilusão. O que na indústria cultural se apresenta como progresso, como inédito, na verdade, permanece igual em todos os sentidos. A estrutura em sua essência é mantida, apenas muda-se a indumentária. Dessa forma, a indústria cultural não está interessada em informar e esclarecer e sim em vender, pois já nasceu contaminada com o imediatismo do lucro.
Entretanto, mesmo a informação sendo voltada para mentes massivas, os receptores podem apreendê-la de formas diferenciadas. Foi nessa brecha deixada pela indústria cultural que a Internet construiu sua trajetória. Um instrumento que tinha todo o potencial de difusão para se tornar mais um massificador, fez justamente o contrário, utilizando as mesmas armas. Na rede se encontra de tudo, é uma mistura incrível de culturas, preferências, bizarrices, serviços oferecidos, etc. Só que os receptores são simultaneamente emissores e agentes da informação, e por isso manejam esse vasto conteúdo com certa propriedade, passando a ter poder para interferir nos produtos simbólicos que consome. A Internet abre espaços para que a sociedade e as várias nações que se conectam diariamente tenham voz, possam expor o que pensam sem censura. E pensar a partir da bagagem do nosso repertório, usando-o como forma de expressão pode ser considerado arte.
Chegou um tempo em que não é mais possível delinear claramente os segmentos de cultura, visto que as diversas combinações existentes são o que fazem a diferença. A questão não é mais separar os nichos de cultura em erudito, popular e massivo, apontando o que seria de fato uma manifestação artística ou não, como fazem muitos teóricos da comunicação. O principal é se deparar com a obra e tentar identificar nela algo que seja familiar, que desperte um sentimento e uma reflexão acerca do tema tratado. A arte só se consagra como arte quando gera esse efeito positivo no receptor, quando contribui para expandir suas fronteiras reflexivas. Esse processo não se dá de forma igualitária, os indivíduos apreendem a informação de acordo com o seu repertório, por isso, mesmo na cultura de massa que visa o lucro, um indivíduo pode identificar uma manifestação artística. Um exemplo disso foi a adaptação do romance de Ariano Suassuna, A Pedra do Reino, para a televisão. O romance é uma manifestação artística que foi inserida num meio de comunicação de massa, a televisão. Entretanto, houve rumores de que a maioria das pessoas não compreendeu aquilo que estava sendo contado poeticamente em episódios. Isso ocorreu devido a falta de bagagem repertórica necessária para dar conta de compreender as combinações semióticas implícitas na obra. Chegamos ao ponto preocupante das consequências da indústria cultural. O hábito de oferecer ao espectador produções esvaziadas de significados – com a aparência de estar apresentando algo novo e de qualidade – torna os indivíduos desqualificados, do ponto de vista crítico e reflexivo, para apreender as verdadeiras manifestações artísticas, já que em nada contribui para expandir os limites do conhecimento acerca de um tema.

Famosa quem?

Rafael Brakarz

Virgem. Mulher (especificamente mulher jovem) que nunca teve relações sexuais, através da vagina, com homem. Essa é a definição, segundo o dicionário da língua portuguesa Aurélio para o substantivo feminino.
Há menos de um século, o Brasil vivia em uma sociedade patriarcal, pregando valores éticos e morais, levando os dizeres católicos ao extremo e enxergando na família o principal vínculo afetivo e educador. O tempo passou, o mundo mudou e logicamente a sociedade também. Os valores não são mais os mesmos e o pensamento capitalista de acumular riqueza é cada vez mais comum entre as pessoas.
Esse é o objetivo de Caroline Miranda. Jovem, bonita de rosto e dona de um belo corpo, a morena surgiu na mídia há cerca de dois anos. Mais conhecida por Carol Miranda, a menina de 19 anos, vinda do interior logo se apresentou como a sobrinha de Gretchen, a cantora e dançarina que atingiu o estrelato ao final dos anos 70 e foi apelidada de “Rainha do Bumbum”.
Segundo Carol, Gretchen apoiava a sua entrada no meio artístico, pois ela não queria ver o título de “Rainha do Bumbum” com outra pessoa. Preferia passar o “trono” a alguém que fosse parte da sua família a ver o prêmio com alguma estranha. A estranha em questão era Andressa Soares, mais conhecida como Mulher Melancia, uma dançarina de funk recém-chegada à mídia àquela época e que chamava a atenção pelo rebolado da dança e pelo tamanho dos quadris: 121 cm.
Como os jornalistas do mundo artístico gostam de uma polêmica, Carol Miranda teve a carreira alavancada. Começou a conceder entrevistas, frequentar programas de auditório e lógico, como tudo faz parte de um jogo, de um acordo, entrou no ramo das fofocas.
Primeiro descobriram que o parentesco com Gretchen era falso. Na verdade ela é sobrinha do atual companheiro da ex-dançarina. Portanto, o laço entre as duas é de consideração. Tudo não passava de uma propaganda para lançar a menina no mundo do show business. Passado isto, para não cair no esquecimento e sair do foco da imprensa, Carol alimentou outra polêmica: disse em entrevista que era virgem.
A declaração não é novidade para esse segmento da mídia. Pessoas muito mais famosas do que Carol já fizeram a mesma declaração, como Angélica e Sandy. Esta, ao menos, manteve sua palavra até a hora do casamento e seguiu os preceitos do século passado.
Carol Miranda seguiu um rumo diferente. Após a descoberta do não parentesco com Gretchen e o anúncio da virgindade, começou a estampar capas de jornais tabloides, voltados para a parcela mais carente da população. Passou a frequentar semana sim outra não o programa “Superpop”, de Luciana Gimenez, de público igualmente ao dos jornais e a fazer sucesso com a exploração de sua imagem (corpo).
Tornou-se cena comum a menina deixar a calcinha aparecer, fazer topless na praia e obviamente, posou nua para uma revista voltada para o público masculino, a Sexy.
Não satisfeita com a exibição de seu corpo na revista, Carol relutou, porém aceitou estrelar um filme pornô. Após uma longa negociação com a equipe da “Sexxy World”, uma das principais do ramo pornográfico do país, selecionou um ator e gravou.
O nome do filme? “Fiz pornô e continuo virgem”. Para filmar os 90 minutos, Caroline teve que comprovar através de um atestado a sua virgindade. Essa foi a única exigência da produtora. Já a “atriz” exigiu que não acontecessem cenas de penetração pela vagina e um cachê de R$ 500 mil. “Sendo bem sincera, quando envolve dinheiro, tudo muda. A gente vive numa hipocrisia muito grande. Fiz mesmo porque foi uma proposta muito boa. Só tenho 19 anos e tenho que aproveitar. Estou sozinha, não estou namorando, e optei por fazer sexo anal. Vou fazer, continuar virgem e resolver minha vida. Depois, sei que vou encontrar uma pessoa bacana para ficar comigo e perder minha virgindade”, disse a moça , sonhadora e ao mesmo tempo realista, em 2008.
Hoje, um ano após o filme, Carol Miranda mantém uma agenda bem atarefada. Continua nos jornais e programas de televisão do mesmo estilo e comparecendo a eventos por um cachê. Tirou duas costelas para afinar a cintura, lipoaspirou as pernas e aumentou as próteses de silicone de 350 ml para 500 ml. Ainda com o filme nas bancas, disse sentir-se arrependida com o trabalho, entretanto, em 2009 estrelará um novo longa: “Encantos da sereia”.
É difícil acreditar nas pessoas que fazem parte desse meio televisivo. Tudo sempre parece falso, voltado para a própria propaganda e na intenção de não arranhar a imagem. Mas até que ponto isso é válido?
É cabível o pensamento de garantir uma boa poupança para o resto da vida, como pensou Caroline. Nenhum veículo fez qualquer reportagem sobre a sua infância no interior. Alguém se interessou em saber se a jovem passou por necessidades? Como foi a sua educação? Ou se há algum problema de saúde em sua família e esse dinheiro seria utilizado em um tratamento? Pode haver mil e uma razões para Caroline ter escolhido esse caminho, até mesmo o simples fato de ela querer vender seu corpo por vontade própria.
Os maiores problemas são as reflexões sobre o tema. Que mundo é esse no qual uma jovem de 19 anos, em tese com uma vida inteira pela frente, agarra a primeira oportunidade por desconfiar que o mundo possa não lhe oferecer outra? Que mundo é esse cada vez mais capitalista e menos romântico, amoroso? Que mundo é esse, que uma jovem sem trabalhar acumula meio milhão de reais?
Qual é o tamanho da culpa da mídia? Qual é a verdadeira extensão do perigo da super valorização da aparência, do tratamento do corpo como objeto? E o tempo útil de Carol, Mulher Melancia ou qualquer outra mulher bonita de corpo que aparece na TV nesse ciclo? Será que elas não percebem que são tratadas como mercadoria? Enquanto der audiência, servem. Será que elas não planejam a vida para daqui a dez anos?
O grande problema é o exemplo que se passa a outras gerações. Em um país como o Brasil, onde boa parte da população não tem acesso a estudo e nem a uma condição de vida digna, mas tem informação invadindo a tela da televisão, o que se mostra é uma jovem vendendo seu corpo para ganhar dinheiro e ascender na vida. A essência do sexo acabou e a sua banalização é mais rentável para o mercado.

A quebra do Pacto

Camila Acatauassú

Antes da era digital, poderia, facilmente, se falar em mercado editorial, produção de notícias e jornalistas como um grupo inseparável, que caminhava de mãos dadas, na mesma direção e lentamente.
Mas com a digitalização da informação e a crescente necessidade de transmissão de notícias de forma mais rápida e dinâmica, novos canais começaram a surgir, de modo a suprir essa demanda desenfreada por informação. Nessa leva, surgiram os blogs de notícias, jornais digitalizados, TVs online, notícias por SMS e até mesmo as atualizações de navegadores de Internet começaram a facilitar as pesquisas virtuais.
No entanto, toda essa modernização mudou também a relação inseparável do mercado editorial, da produção de notícias e dos jornalistas. De certa forma, o mercado editorial tornou-se obsoleto, afinal, nessa vida mais dinâmica e corrida da sociedade pós-moderna, as notícias precisam ser mais rápidas, curtas e portáteis do que um jornal de papel cheio de cadernos – como uma nota num SMS, por exemplo. Por outro lado, a rapidez, aparentemente necessária para esse ritmo de vida, acaba tornando as notícias efêmeras e preocupantemente superficiais. Sendo assim, modifica-se completamente o processo de produção de notícias, que, anteriormente podia ser muito mais meticulosamente articulado e rebuscado, checando fontes e tendo mais tempo hábil para ver as coisas acontecendo de fato. Hoje em dia, grande parte das notícias são apenas a recontagem de uma história que foi contada por alguém – ou seja, quanto mais obstáculos há no canal, mais ruído haverá quando a informação chegar ao seu destinatário.
O jornalista, nesse processo de modernização do bombardeamento, já não é apenas um mero expectador, investigador e partilhador dos fatos que presencia – ele é, ainda, seu próprio editor, fotógrafo, redator e corretor de erros. Tudo isso em tempo recorde de poucas horas ou, muitas vezes, minutos.
Certamente que as notícias, na sociedade atual, precisam ser transmitidas imediatamente; os telespectadores, internautas e mesmo os leitores anseiam por isso. A mídia impressa tornou-se lenta demais para a demanda e a rapidez que as mensagens precisam ser transmitidas para suprir a necessidade do sensacional que a própria mídia enxertou nas pessoas. Por conta disso, as notícias tornaram-se ocas, os jornalistas não são mais os especialistas em contar os fatos da maneira mais veraz possível e a esmagadora maioria das mensagens passadas e recebidas por pessoas que estão distantes, hoje em dia, são feitas por aparelhos eletrônicos, normalmente portáteis. Da mesma forma que não existe mais tempo para um homem normal, que trabalha oito horas por dia, ler o jornal inteiro quando acorda, não há possibilidade de a mídia parar um segundo sequer. A maioria dos sites de grandes empresas de comunicação e telecomunicação são atualizados vinte e quatro horas por dia.
A tecnologia, supostamente, não deveria dificultar a inteligibilidade dos fatos, pelo contrário. Porém, as pessoas preferiram trocar qualidade por quantidade. Até que chegará um dia que nem precisaremos mais de jornalistas para reportar os fatos – e talvez nem de pessoas para lê-los.

Eliminando o problema

Vinícius Ferreira

Parece-me engraçado, mas creio que algumas situações no Brasil acabam se tornando moda, fazendo jus ao famoso ditado “Maria vai com as outras”. Não estou falando da moda em si, dessa rotina consumista de óculos, roupas, calçados, desfiles e tudo mais ligado a esse mundo “fashion”, como é denominado. Me refiro à prática do abandono infantil.
Até pouco tempo encontrava-se em desuso o termo “Abandono de Incapaz”, porém a alguns meses se tornou assunto intensamente debatido, uma vez que transformou-se em rotina ouvir que mães largaram seus próprios filhos indefesos em latas de lixo, calçadas e até em lagoas.
Quem não se lembra do caso da Pampulha, no qual um casal de namorados teve seu momento de lazer interrompido por um contínuo e estridente choro de um recém-nascido? Incomodados, decidiram procurar de onde vinha o barulho. E, surpreendentemente, encontraram em plena lagoa, boiando dentro de um saco preto de lixo, uma criança. Toda a ação foi filmada pela câmera digital do casal (viva a tecnologia) e transmitida em horário nobre pela mídia brasileira (é claro).
Depois desse fato, inúmeros outros foram revelados aos demais cidadãos brasileiros, que a cada noticiário se revoltava e se indignava com o que era mostrado. Mães, jovens ou adultas, desprovidas de qualquer tipo de amor ou um simples afeto pelos filhos que geraram, simplesmente os largavam aonde convinha.
No dia 19 de janeiro desse ano, uma recém-nascida foi abandonada em uma vala de esgoto, em Cuiabá. Quando foi encontrada, a menina ainda estava com o cordão umbilical, molhada com a água do esgoto e suja de terra. Os pais da criança ainda não foram localizados pela polícia.
Parando para analisar uma situação como essa, chegamos a qual conclusão? Será que essas horrendas situações são provenientes da depressão pós-parto, da falta de preparo materno ou de condições financeiras ínfimas? Colocar culpa no dinheiro não seria a melhor opção, já que houve casos em que mulheres com boas condições praticaram tal ato. Falta de preparo até pode ser, pois a maioria dos casos está ligado a mães adolescentes. Mas já ocorreu de mulheres a cima dos 30, cansadas de verem e ouvirem o modo correto de cuidar de uma criança, fazerem isso.
Então o principal motivo só pode ser a depressão. Oh, coitadas dessas pobres mães, tão injustiçadas. Todos dizendo que a culpa era delas, quase crucificado-as e, na verdade, toda a culpa era da depressão pós-parto. Então, a obrigação da mídia e de cada um de nós é pedir desculpas a essas mulheres.
Mas há quem diga que não é a depressão a causa desses abandonos. Se assim for, o que pode gerar esse fato? Problemas psicológicos, ações provenientes de impulsos, desespero, ou falta de Deus?
Na verdade, não há uma explicação plausível e 100% lógica para definir o ato de abandonar um ser incapaz de se defender ou agir em favor de si próprio. Para a elucidação desse assombroso mistério é necessário adentrar no mundo psíquico dessas mães, se assim podem ser chamadas, a fim de descobrir a razão impulsionadora da ação.
Mas o pior ainda está por vir. Sites americanos mostram que de 1998 a 2004, 230 crianças morreram trancadas dentro de carros, contra 178 vítimas de furacões, provando, assim, que a irresponsabilidade dos pais mata mais do que furacão nos Estados Unidos. Ou seja, quando não se elimina o problema, jogando-o fora, o subconsciente entra em ação, nos levando a ter um momento de alívio, através do esquecimento do fardo carregado diariamente.
Logo, permanecem sem respostas indagações do tipo “Onde vai parar o ser humano?”, “Até que ponto o homem consegue ir para realizar certas ações?”, “Somos nós capazes de tudo?”. As respostas podem ser complicadas, mas uma reflexão sobre tais temas é viável. Pare e pense.


Art. 133 do Código Penal: “Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono: Pena - detenção, de 6(seis) meses a 3(três) anos."

"E agora, José?"

Filipe Barbosa

Sobre a não-obrigatoriedade do diploma para jornalistas, assunto abordado nas aulas de Teoria Do Jornalismo II e recente decisão do Supremo Tribunal Federal, eis algumas considerações:
O processo de formação da atividade jornalística se estabelece através da interação dialógica de partes provocantes, no que se relaciona à capacidade de questionamento acerca da realidade mundana, predispostas como sujeito e coisa na superfície de percepção do conhecimento.

A história do exercício profissional percebeu, ao longo de seu curso, inúmeras perspectivas e circunstâncias que mostram a complexidade de sua existência. Para ser atuante no segmento das ciências humanas, é importante ter um olhar crítico diante dos momentos engendrados pela evolução (involução) da sociedade, em tempos onde a modernidade observa a crise do lucro como fator predominante ao estado de alerta.

É importante ressaltar que a informação traduz, à luz da concepção humana, um leque de interpretações, no âmbito da lógica disponibilizada a partir do simbolismo e iconicidade convencionados à linguagem e aos hábitos, bem como às crenças repertorizadas no universo imaginário. O fluxo de notícias é fruto da avaliação significativa dos acontecimentos, fato que desobriga a necessidade das exigências acadêmicas, que se fundem no cumprimento dos requisitos legais instituídos legitimamente no campo social.

Vale frisar que em determinado período da caminhada política e da trajetória da imprensa, em plena ditadura, a voz da expressão e a liberdade de conscientização foram coibidas em aceno claro de repressão opinativa. Os militares se sobrepunham aos ideais estudantis, transformando o livre arbítrio em rédea curta.

Os veículos de Comunicação, por sua vez, sempre tiveram papel fundamental na questão dos interesses comerciais e financeiros, no que tange à persuasão político-ideológica, bem como ao culto em prol do entretenimento. A Indústria Cultural não carece de modelos “inalcançáveis” de produção intelectual, haja vista o estereótipo do sujeito pós-moderno se desvencilhar de toda e qualquer proposta nesse sentido. Em contrapartida, a transmissão de cidadania e de criticidade solicita aos mecanismos de ensino o grau mínimo de estrutura, em cujas raízes não encontra solução.

É válido acrescentar que, conforme rege a Constituição Federal de 1988, todo cidadão tem direito à liberdade de expressão e ao respeito de resposta, motivo que calca e enfatiza as atribuições de comunicador a qualquer habitante de nosso território capaz de negociar ideias. Afinal, será que a sociabilização depende, necessariamente, do vínculo educacional nos trâmites da frouxidão democrática do Brasil? Será que, para a execução do pensamento na coletividade, é preciso que paguemos pelo ensino em sua base ora deficiente?

O uso ideal do raciocínio na apropriação da voz da sociedade deve ser visto como premissa para a ação de um jornalista, independente das requisições antes previstas. A queda da lei de imprensa e a não-obrigatoriedade do diploma, decisões impostas pelo Supremo Tribunal Federal, passam longe de quebrar os paradigmas da profissão, pois a extenuante manipulação de fontes é o desafio indispensável ao cerne do Comunicador Social.