sexta-feira, 3 de julho de 2009

Eliminando o problema

Vinícius Ferreira

Parece-me engraçado, mas creio que algumas situações no Brasil acabam se tornando moda, fazendo jus ao famoso ditado “Maria vai com as outras”. Não estou falando da moda em si, dessa rotina consumista de óculos, roupas, calçados, desfiles e tudo mais ligado a esse mundo “fashion”, como é denominado. Me refiro à prática do abandono infantil.
Até pouco tempo encontrava-se em desuso o termo “Abandono de Incapaz”, porém a alguns meses se tornou assunto intensamente debatido, uma vez que transformou-se em rotina ouvir que mães largaram seus próprios filhos indefesos em latas de lixo, calçadas e até em lagoas.
Quem não se lembra do caso da Pampulha, no qual um casal de namorados teve seu momento de lazer interrompido por um contínuo e estridente choro de um recém-nascido? Incomodados, decidiram procurar de onde vinha o barulho. E, surpreendentemente, encontraram em plena lagoa, boiando dentro de um saco preto de lixo, uma criança. Toda a ação foi filmada pela câmera digital do casal (viva a tecnologia) e transmitida em horário nobre pela mídia brasileira (é claro).
Depois desse fato, inúmeros outros foram revelados aos demais cidadãos brasileiros, que a cada noticiário se revoltava e se indignava com o que era mostrado. Mães, jovens ou adultas, desprovidas de qualquer tipo de amor ou um simples afeto pelos filhos que geraram, simplesmente os largavam aonde convinha.
No dia 19 de janeiro desse ano, uma recém-nascida foi abandonada em uma vala de esgoto, em Cuiabá. Quando foi encontrada, a menina ainda estava com o cordão umbilical, molhada com a água do esgoto e suja de terra. Os pais da criança ainda não foram localizados pela polícia.
Parando para analisar uma situação como essa, chegamos a qual conclusão? Será que essas horrendas situações são provenientes da depressão pós-parto, da falta de preparo materno ou de condições financeiras ínfimas? Colocar culpa no dinheiro não seria a melhor opção, já que houve casos em que mulheres com boas condições praticaram tal ato. Falta de preparo até pode ser, pois a maioria dos casos está ligado a mães adolescentes. Mas já ocorreu de mulheres a cima dos 30, cansadas de verem e ouvirem o modo correto de cuidar de uma criança, fazerem isso.
Então o principal motivo só pode ser a depressão. Oh, coitadas dessas pobres mães, tão injustiçadas. Todos dizendo que a culpa era delas, quase crucificado-as e, na verdade, toda a culpa era da depressão pós-parto. Então, a obrigação da mídia e de cada um de nós é pedir desculpas a essas mulheres.
Mas há quem diga que não é a depressão a causa desses abandonos. Se assim for, o que pode gerar esse fato? Problemas psicológicos, ações provenientes de impulsos, desespero, ou falta de Deus?
Na verdade, não há uma explicação plausível e 100% lógica para definir o ato de abandonar um ser incapaz de se defender ou agir em favor de si próprio. Para a elucidação desse assombroso mistério é necessário adentrar no mundo psíquico dessas mães, se assim podem ser chamadas, a fim de descobrir a razão impulsionadora da ação.
Mas o pior ainda está por vir. Sites americanos mostram que de 1998 a 2004, 230 crianças morreram trancadas dentro de carros, contra 178 vítimas de furacões, provando, assim, que a irresponsabilidade dos pais mata mais do que furacão nos Estados Unidos. Ou seja, quando não se elimina o problema, jogando-o fora, o subconsciente entra em ação, nos levando a ter um momento de alívio, através do esquecimento do fardo carregado diariamente.
Logo, permanecem sem respostas indagações do tipo “Onde vai parar o ser humano?”, “Até que ponto o homem consegue ir para realizar certas ações?”, “Somos nós capazes de tudo?”. As respostas podem ser complicadas, mas uma reflexão sobre tais temas é viável. Pare e pense.


Art. 133 do Código Penal: “Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono: Pena - detenção, de 6(seis) meses a 3(três) anos."

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