sexta-feira, 3 de julho de 2009

Castelo Virtual

Juliana Gil

É estranho como o mundo moderno funciona. De certa forma, é como se estivéssemos vivendo em um estado de hibernação desperta. O homem contemporâneo se divide em mil facetas diferentes e não adere a nenhuma; é sufocado pelo constante fluxo de informações, imagens e sons, mas não consegue sair da inércia. Seu corpo e espírito permanecem dormentes, acorrentados por grilhões invisíveis e “gentis” na sua dominação.

Existem tantas opções, tantos caminhos, tantas maneiras de se chegar a um objetivo desejado, mas nunca foi tão difícil encontrar um caminho próprio para trilhar. O homem moderno não tem mais consciência, apenas traços e instruções a serem seguidos sem pestanejar.

Neste círculo vicioso de acordar, trabalhar, descansar e se levantar para ir trabalhar de novo, já não há mais a consciência do eu por si próprio. O ser humano moderno é globalizado, atualizado, “plugado” e “desplugado” do mundo com a rapidez de um piscar de olhos e a crueldade de não se saber agir de outra maneira. A grande ironia é o fato de todas as coisas que a tecnologia e o acesso a informação, quase instantâneo, nos proporcionaram ao longo dos anos, acabaram também por complicar a vida um pouco mais.

A internet, grande responsável pelo grande fluxo de informações no mundo globalizado atual, nos tornou “seres multimídia”, capazes de pesquisar mil informações de mil fontes ao mesmo tempo, de desenvolver uma personalidade virtual, um espaço dentro de nós mesmos capaz de evadir a consciência das pressões do cotidiano.
É possível que com tudo isso tenhamos nos tornado pessoas cada vez mais frias e distantes da realidade. Os relacionamentos tornaram-se cada vez mais superficiais e tudo se tornou muito descartável. A internet nos permite dizer o que pensamos sem ter que responder a ninguém. Permite que ventilemos nossas frustrações sem medo de ser feliz. E na verdade, internamente, não fazemos nada disso. Um desabafo virtual, por mais sincero que seja, é algo que é feito do conforto de casa, através de uma tela de um computador, sem o menor contato onde possam ser percebidos os reais sentimentos das pessoas, fazendo com que dessa forma nunca tenhamos que encarar os nossos próprios demônios internos. Por trás de uma máquina é muito mais fácil ser humano, pensar e dizer coisas boas e bonitas. O mais difícil é viver essa sinceridade na vida cotidiana, e no convívio com as outras pessoas, buscando cada vez mais parecermos seres verdadeiramente HUMANOS, a seres meramente VIRTUAIS.

Um comentário:

  1. E a grande dúvida está em saber até que ponto vale a pena viver esse mundo irreal!

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