sexta-feira, 3 de julho de 2009

Famosa quem?

Rafael Brakarz

Virgem. Mulher (especificamente mulher jovem) que nunca teve relações sexuais, através da vagina, com homem. Essa é a definição, segundo o dicionário da língua portuguesa Aurélio para o substantivo feminino.
Há menos de um século, o Brasil vivia em uma sociedade patriarcal, pregando valores éticos e morais, levando os dizeres católicos ao extremo e enxergando na família o principal vínculo afetivo e educador. O tempo passou, o mundo mudou e logicamente a sociedade também. Os valores não são mais os mesmos e o pensamento capitalista de acumular riqueza é cada vez mais comum entre as pessoas.
Esse é o objetivo de Caroline Miranda. Jovem, bonita de rosto e dona de um belo corpo, a morena surgiu na mídia há cerca de dois anos. Mais conhecida por Carol Miranda, a menina de 19 anos, vinda do interior logo se apresentou como a sobrinha de Gretchen, a cantora e dançarina que atingiu o estrelato ao final dos anos 70 e foi apelidada de “Rainha do Bumbum”.
Segundo Carol, Gretchen apoiava a sua entrada no meio artístico, pois ela não queria ver o título de “Rainha do Bumbum” com outra pessoa. Preferia passar o “trono” a alguém que fosse parte da sua família a ver o prêmio com alguma estranha. A estranha em questão era Andressa Soares, mais conhecida como Mulher Melancia, uma dançarina de funk recém-chegada à mídia àquela época e que chamava a atenção pelo rebolado da dança e pelo tamanho dos quadris: 121 cm.
Como os jornalistas do mundo artístico gostam de uma polêmica, Carol Miranda teve a carreira alavancada. Começou a conceder entrevistas, frequentar programas de auditório e lógico, como tudo faz parte de um jogo, de um acordo, entrou no ramo das fofocas.
Primeiro descobriram que o parentesco com Gretchen era falso. Na verdade ela é sobrinha do atual companheiro da ex-dançarina. Portanto, o laço entre as duas é de consideração. Tudo não passava de uma propaganda para lançar a menina no mundo do show business. Passado isto, para não cair no esquecimento e sair do foco da imprensa, Carol alimentou outra polêmica: disse em entrevista que era virgem.
A declaração não é novidade para esse segmento da mídia. Pessoas muito mais famosas do que Carol já fizeram a mesma declaração, como Angélica e Sandy. Esta, ao menos, manteve sua palavra até a hora do casamento e seguiu os preceitos do século passado.
Carol Miranda seguiu um rumo diferente. Após a descoberta do não parentesco com Gretchen e o anúncio da virgindade, começou a estampar capas de jornais tabloides, voltados para a parcela mais carente da população. Passou a frequentar semana sim outra não o programa “Superpop”, de Luciana Gimenez, de público igualmente ao dos jornais e a fazer sucesso com a exploração de sua imagem (corpo).
Tornou-se cena comum a menina deixar a calcinha aparecer, fazer topless na praia e obviamente, posou nua para uma revista voltada para o público masculino, a Sexy.
Não satisfeita com a exibição de seu corpo na revista, Carol relutou, porém aceitou estrelar um filme pornô. Após uma longa negociação com a equipe da “Sexxy World”, uma das principais do ramo pornográfico do país, selecionou um ator e gravou.
O nome do filme? “Fiz pornô e continuo virgem”. Para filmar os 90 minutos, Caroline teve que comprovar através de um atestado a sua virgindade. Essa foi a única exigência da produtora. Já a “atriz” exigiu que não acontecessem cenas de penetração pela vagina e um cachê de R$ 500 mil. “Sendo bem sincera, quando envolve dinheiro, tudo muda. A gente vive numa hipocrisia muito grande. Fiz mesmo porque foi uma proposta muito boa. Só tenho 19 anos e tenho que aproveitar. Estou sozinha, não estou namorando, e optei por fazer sexo anal. Vou fazer, continuar virgem e resolver minha vida. Depois, sei que vou encontrar uma pessoa bacana para ficar comigo e perder minha virgindade”, disse a moça , sonhadora e ao mesmo tempo realista, em 2008.
Hoje, um ano após o filme, Carol Miranda mantém uma agenda bem atarefada. Continua nos jornais e programas de televisão do mesmo estilo e comparecendo a eventos por um cachê. Tirou duas costelas para afinar a cintura, lipoaspirou as pernas e aumentou as próteses de silicone de 350 ml para 500 ml. Ainda com o filme nas bancas, disse sentir-se arrependida com o trabalho, entretanto, em 2009 estrelará um novo longa: “Encantos da sereia”.
É difícil acreditar nas pessoas que fazem parte desse meio televisivo. Tudo sempre parece falso, voltado para a própria propaganda e na intenção de não arranhar a imagem. Mas até que ponto isso é válido?
É cabível o pensamento de garantir uma boa poupança para o resto da vida, como pensou Caroline. Nenhum veículo fez qualquer reportagem sobre a sua infância no interior. Alguém se interessou em saber se a jovem passou por necessidades? Como foi a sua educação? Ou se há algum problema de saúde em sua família e esse dinheiro seria utilizado em um tratamento? Pode haver mil e uma razões para Caroline ter escolhido esse caminho, até mesmo o simples fato de ela querer vender seu corpo por vontade própria.
Os maiores problemas são as reflexões sobre o tema. Que mundo é esse no qual uma jovem de 19 anos, em tese com uma vida inteira pela frente, agarra a primeira oportunidade por desconfiar que o mundo possa não lhe oferecer outra? Que mundo é esse cada vez mais capitalista e menos romântico, amoroso? Que mundo é esse, que uma jovem sem trabalhar acumula meio milhão de reais?
Qual é o tamanho da culpa da mídia? Qual é a verdadeira extensão do perigo da super valorização da aparência, do tratamento do corpo como objeto? E o tempo útil de Carol, Mulher Melancia ou qualquer outra mulher bonita de corpo que aparece na TV nesse ciclo? Será que elas não percebem que são tratadas como mercadoria? Enquanto der audiência, servem. Será que elas não planejam a vida para daqui a dez anos?
O grande problema é o exemplo que se passa a outras gerações. Em um país como o Brasil, onde boa parte da população não tem acesso a estudo e nem a uma condição de vida digna, mas tem informação invadindo a tela da televisão, o que se mostra é uma jovem vendendo seu corpo para ganhar dinheiro e ascender na vida. A essência do sexo acabou e a sua banalização é mais rentável para o mercado.

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