sábado, 22 de agosto de 2009

Minha primeira visita ao psicanalista

Texto de Brenda Leal para o caderno temático da próxima edição da revista.

Quantas vezes digitei esse título no Word e não consegui desenvolver? Não sei, talvez umas 7, ou 8, ou até mesmo 10 vezes. Pensei, repensei, olhei minhas anotações e nada, que eu considerasse, profundo o bastante surgia. Foi então que eu me lembrei o que a “minha psicanalista” falou: as coisas que devem ser ditas vão surgindo aos poucos. Então eu pensei: o que eu não consigo escrever é o que eu quero dizer ou o que eu não quero que saibam? Decidi me desarmar. Vamos aos fatos.

Propus-me a procurar um psicanalista, nesse momento minha análise começa. Cheguei na hora marcada num sobrado muito romântico na zona sul, mas tudo vai desmoronando aos poucos. Já na recepção me deparo com pessoas descalças, comida macrobiótica, crianças com os dedos sujos de tinta, eu repleta de preconceito, ri por dentro e pensei: centro Hare Krishna era tudo o que eu precisava, logo estarei entoando mantras e raspando a cabeça.

Estava tranqüila, até começar a subir as escadas que rangem e o meu coração começar a pulsar mais forte e minhas mãos suavam também. Mais uma vez me frustrei, não era um consultório, era uma sala confortável com almofadas, luz baixa, formando um ambiente tranqüilo. Tudo o que eu não queria. A psicanalista e não “O” , como eu desejava, abriu um sorriso e me disse: diga lá. E eu só conseguia pensar: diga lá o quê? Toda a tranqüilidade aparente se transformou num desconforto absoluto. Como eu gostaria que ela fosse austera do tipo que faz perguntas diretas, dá os diagnósticos e te manda voltar na semana que vem para saber como evoluiu o seu caso.

Assim como fiz aqui, decidi me desarmar, e assustadoramente as coisas foram saindo, foram buscando-a e quando percebi estava lá eu, arrebatada por aquela figura feminina, gentil e inteligente. Fui lá querendo conhecer o processo de análise e sai de lá me conhecendo muito mais, não conseguia me concentrar em nada ao longo do dia, só em mim e pela primeira vez em muito tempo fiz isso sem culpa. A primeira visita se transformou em segunda, com ela surgiu a ansiedade da terceira e percebi que não tem diagnóstico, não tem caso clínico e muito menos consulta, tudo faz parte de um processo de descoberta, não tem mágica e nenhum mistério. Continuo “freqüentando” a psicanalista e deixando meu inconsciente agir. O que eu espero do próximo encontro? Nada, parei de me preparar.

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