domingo, 21 de junho de 2009

PÓS DITADURAS - O DIFERENTE AGIR DE BRASIL, ARGENTINA E CHILE

Por Luiz Fernando Sancho

Ao se compararem os governos de Brasil, Argentina e Chile, há uma dissonância de discussões frente a ações referentes aos crimes do regime militar. Depois de uma pseudo-anistia, já que não se perdoa crimes inexistentes nos trâmites jurídicos, veio à expectativa sobre o governo de Fernando Henrique Cardoso. Imaginava-se que por ele ter sido exilado abriria os arquivos desse período. Expectativas frustradas, sobrou ao Lula o consolo de indenizações milionárias à algumas pessoas envolvidas e só recentemente a anistia, essa verdadeira, concedida ao ex-presidente deposto João Goulart.
No Brasil houveram punições brandas, todas conquistadas pelo grupo Tortura Nunca Mais. Graças a essa intituição formada por ex-presos políticos, alguns torturadores foram afastados de cargos publicos e médicos que emitiram laudos fasos, tiveram seus registros caçados. Muito pouco perto do que Argentina e Chile fizeram.
Na argentina, além do Estado que puniu alguns militares e pessoas envolvidas com a ditadura, incluindo os ex-presidentes Reynaldo Bignone e Leopoldo Galtieri, existem ações populares. As “madres da praça de maio” nunca quiseram indenizações. Querem justiça, pois acreditam que não há dinheiro que compre a vida de seus filhos engajados politicamente e desaparecidos nesse período. Desenham cruzes no chão da praça de Buenos Aires enquanto a direita pinta, no mesmo lugar, sempre perto ao desenho das mães, um símbolo de duas fitas cruzadas de cor negra em apoio ao antigo regime. Protestam contra lágrimas santas de mães que só querem seus filhos.
Também na Argentina já existem as “avós da praça de Maio” que procuram por seus netos nascidos em cativeiros do regime. Centenas foram localizados, mas outros centenas estão sumidos. A família argentina continua com a geração jovem que pune, com as próprias mãos, os torturadores de seus pais. Descobrem em que bairro esses torturadores moram e vão aos vizinhos, ao bar que freqüenta contando tudo o que eles fizeram. O resultado são os insultos vindo da sociedade a esses torturadores, que se vêem obrigados a mudarem de casa, mas o novo sossego acaba quando os filhos dos torturados descobrem para onde esses homens se mudaram. É uma dicotomia.
Com Michelle Bachelet eleita, a justiça no Chile veio de cima para baixo. Bachelet sentiu na pele, junto da sua família os horrores da repressão pinochista. A prisão e condenação à morte de Pinochet, foi visto por muitos como uma vingança pessoal da atual presidente e inflamou o ódio da direita no país. Esses vêem o ditador como um visionário, já que ele foi o primeiro neoliberal da história. Desdenham os dados que mostram um crescimento enorme do PIB chileno pré-Pinochet e sua drástica queda durante seu governo.
A não punição desferida por parte do governo no Brasil é uma afronta não só aos que sofreram com torturas, mas com toda a humanidade. Não se pode comparar o ocorrido aqui com os acontecimentos de outros lugares. Há singularidades, como em todo processo histórico. Por isso pedir uma mesma reação do Brasil seria errôneo, porém um direito universal foi quebrado e o mundo precisa fazer algo. O apoio de entidates internacionais aos grupos sulamericanos não é o bastante. Governos devem cobrar punições contra os torturadores brasileiros.

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