domingo, 21 de junho de 2009

AS NOTÍCIAS DOS FRONTS

Por Luiz Fernando Sancho[1]

A independência, ou ao menos a busca dessa, é primordial no trabalho jornalístico. Mas, quando repórteres são enviados a uma guerra, eles se colocam de um lado ou do outro. Assinam, junto a um desses, um termo para resguardar sua vida. Ir há um campo de batalha, sem esse contrato, é ficar vulnerável e assinar sua sentença de morte.

As imagens, que chegam pela grande mídia desses conflitos, são parciais. O outro lado é o inimigo de quem protege o repórter, que quase sempre se coloca sob a tutela de tropas ocidentais. Filma-se o que pode ser filmado e fecham-se as cortinas quando o capitão mandar.

O que a maioria lê e vê, é o espetáculo puro em si. Não há notícia se não houver no mínimo dois lados. Em caso de guerras, é desaconselhável para os historiadores usar a grande mídia como fonte. Não há fatos e sim uma única versão deles.

Os meios de comunicação de massa criaram uma fábula na Bósnia: o lado bom e lado mal da guerra. O lado mal era representado pelos sérvios, por razões puramente culturais, atestada nas perspectivas ocidentais. Eles foram tratados como terríveis propagadores da purificação étnica. Com certeza tais conclusões midiáticas, nesse caso, são verídicas. Porém o outro: os croatas e mulçumanos, apresentados como o lado bom, também possuíam suas mazelas.

Em 17 de agosto de 1992, um homem é mostrado na capa da revista americana Time. Trata-se de uma pessoa esquelética. Foi descrito como um prisioneiro mulçumano dos sérvios. Na verdade ele era um sérvio prisioneiro dos mulçumanos. Outras publicações errôneas se seguiram a essa. É o caso de Branko Velec, um senhor apontado como prisioneiro mulçumano que também era bósnio e prisioneiro dos mulçumanos. Em 1993 a revista Newsweek, publicou na capa, uma fileira de cadáveres e um texto abaixo: “Haverá alguma maneira de interromper as atrocidades dos sérvios na Bósnia?”, o único problema, da capa, é que os cadáveres eram sérvios.

Uma das coisas que possibilitaram o aparecimento dos estudos da história do tempo presente, e da própria notícia, foi à mídia renascente cada vez mais plural. Equipamentos que antes pesavam 10 quilos hoje pesam 1,5. Celulares, e até relógios, captam imagens com precisão, inclusive ao do desrespeito dos carrascos na sentenciada morte de Saddam Hussein. Atualmente, todos podem fazer e transmitir imagens, seja pela televisão, que as compra havendo interesse, ou através da internet.

A Al Jazeera, possui 12 anos. É uma rede televisiva, com idade de criança entrando na adolescência. Nasceu no Catar, país pequeno do Oriente Médio. Logo no seu primeiro ano, a rede se destacou em meio a canais dóceis e controlados da região. A Al Jazeera é a voz que ecoa do lado de lá. É ela que tem transformado, no lado oriental e em alguns países da Europa, o espetáculo em notícia. Não é a verdade sob todas as outras, mas consegue ser, o outro lado. Suas transmissões contrapuseram o ufanismo da CNN, maior rede de televisão estadunidense e mundial.

Para fechar, sob uma das guerras atuais, citaremos uma frase do jornalista Eugênio Bucci: “Esta Guerra só foi possível porque a verdade foi vitimada muito antes dos combates, obscurecida pela propaganda americana, que vendeu ao povo a necessidade do ataque ao Iraque como forma de defesa dos EUA e a idéia de que a vitória seria fácil e rápida. Ele é um produto da desinformação produzida pela máquina de informação e propaganda dos EUA”.



[1] Luiz Fernando Sancho é jornalista e historiador.

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