quarta-feira, 27 de maio de 2009

Jornalista sim, mas com diploma!

Por Robson Fraga

Responda se for capaz: é possível que um açougueiro ocupe a posição de cirurgião em um pronto socorro com a mesma destreza? E um pedreiro, pode ele ser o responsável técnico por uma edificação no lugar de um engenheiro? Então porque qualquer um com uma voz bonita, certo domínio da língua portuguesa e alguma flexibilidade ideológica pode ser considerado jornalista? Sim, porque estas características também podem ser encontradas tanto no açougueiro quanto no pedreiro, mas nenhum deles está qualificado para ocupar a posição de bacharel em comunicação.

Andando pela região Norte de Goiás é possível encontrar a cada esquina um novo jornalista. Seja em rádios, jornais ou nas televisões sempre há alguém respondendo pelas funções de repórter, redator, editor, chefe de reportagem, etc., enquanto inúmeros colegas passam quatro anos em uma graduação, outros mais na especialização, e o resto da vida no subemprego ou em funções diferentes da que escolheram seguir. Porque será que aturamos isso? Somos fracos, omissos ou apenas acomodados?

Para se ter uma idéia, a Organização Jaime Câmara, afiliada Globo, com repetidoras em Goiânia, em várias cidades do interior de Goiás e até no Tocantins, prefere contratar locutores-entrevistadores em lugar de jornalistas para o setor de telejornalismo. Sabem por quê? Porque assim pagam o mísero salário de R$ 1.147,00 somados a duas horas-extras fixas - e nenhum benefício a mais - ao candidato “morto de fome” que se obriga a aceitar tal proposta.

Infelizmente a legislação trabalhista e a falta de um sindicato da categoria formado por pessoas ocupadas em defender nossos profissionais permitem esta brincadeira. Qualquer cidadão em Goiás entra para TV por ter boa aparência, dicção controlada e um bom texto; o registro de radialista, comprado por míseros R$ 50, lhe concede o “título” de locutor entrevistador e o torna apto a manter a população do Estado “bem informada”!

Nas rádios a situação é ainda pior. Locutores de voz rouca e boa articulação vocal se tornam âncoras de programas jornalísticos sem qualquer preparo. “Nós faz” é pronúncia comum e, acreditem, considerada normal! Plural não existe; mesmo para um conjunto de idéias e ações o singular vai bem. O jornalismo se restringe a mostrar obras do poder executivo e a falar mal do legislativo. Sim, porque a arrecadação das emissoras vem em quase sua totalidade dos pomposos contratos feitos com as prefeituras. Diga-se de passagem: os acordos têm fins publicitários – pelo menos no papel - e não jornalísticos. Mas eles não sabem o que isso quer dizer.

A Rádio 104.7 FM, do grupo Paulo Chagas de Comunicação, por exemplo, tem cerca de 75% de seu faturamento pago pela prefeitura de Niquelândia. Sua concorrente, a rádio Mantiqueira 860 AM, vai mais longe: 80% do que entra vem da mesma prefeitura e esta rádio só transmite dentro do município! Os diretores das emissoras ocupam cargos de confiança na prefeitura em funções distantes do departamento de comunicação para desmascarar a falta de ética. Em 2005, durante o mandato de Joaquim Tomaz de Aquino, a coisa era mais feia: do dono da AM, Márcio Rocha, respondia pela chefia de assessoria de imprensa da prefeitura e o diretor da FM, Joster Alves, era o chefe do cerimonial. Sabem quanto ganha o “jornalista” nas rádios? Apenas R$ 684 de piso por serem considerados apenas locutores. Se quiserem ganhar mais precisam vender publicidade para as rádios em troca de 20% do valor do contrato,

Nas redações dos jornais - se é que podemos considerar periódicos mensais cheios de erros e ortografia e totalmente parciais, como jornais - a situação se repete. Geralmente as capas trazem as praças inauguradas, os “quilômetros” de asfalto refeitos em operações tapa-buracos e a pintura, chamada de reforma, das escolas municipais. Ou, ainda, os encontros entre deputados estaduais e federais com os prefeitos e vereadores da base como matéria principal. As manchetes geralmente informam a assinatura de ordens de serviço custeadas por repasses de verbas oriundos de emendas orçamentárias do legislativo. Mas estas obras nunca saem do papel. Entre os “jornais” destaque para O Diário do Norte (que é semanal e diz cobrir cerca de 15 municípios em Goiás); Cidade, O Estadão, Correio do Povo (mensários em Uruaçu); Jornal Cidade (mensário em Porangatu); e Jornal do Interior (quinzenal em Niquelândia).

Posso falar disso sim. Aliás, posso denunciar estas práticas arcaicas, detestáveis e reprováveis porque durante 2,7 anos estive atuando em TV, rádio e em três jornais da região Norte de Goiás (repórter na TV Rio do Ouro, editor na rádio 104.7 FM, editor do Jornal do Interior e repórter no Diário do Norte e no Sem Fronteiras - o único imparcial. Como fui contratado no Rio de Janeiro, meu Estado de origem, cheguei a Goiás numa situação um pouco melhor que a dos colegas nascidos, criados e formados por lá. Além de um salário um razoável contava com benefícios como moradia e telefonia grátis. Mas resolvi dar um basta nisso tudo e voltei pra casa. Quem sabe daqui não consigo ser mais útil na árdua tarefa de tentar dar voz aos nossos colegas goianos!

Precisamos nos unir, meus caros! Peguemos como exemplo os metalúrgicos de São Paulo que, quando querem, param o Estado e até o País em busca de melhorias salariais e de benefícios trabalhistas. Porque nos calarmos se nossa função é comunicar? Vamos propalar aos quatro cantos a necessidade do diploma de bacharel; da consolidação de um Conselho Federal de Jornalismo ou de uma Ordem dos Jornalistas do Brasil, como ocorre com outras categorias. Vamos exigir que a Federação Nacional dos Jornalistas, a Fenaj, cumpra seu papel: denuncie; vá às ruas mostrar nossa indignação; bata às portas do Congresso em busca de soluções cabíveis e imediatas. Não podemos ser tratados assim! Sozinhos somos fracos, mas unidos podemos transformar o mundo!

Somos nós que mostramos aos brasileiros as mazelas do país e do mundo. Fazemos denúncias, desvendamos crimes contra pessoas e contra a ordem pública. Desmistificamos a economia para que todos saibam onde gastar o pouco que ganham. Traçamos o retrato fiel do “país do futuro”, mas necessitamos de respeito para ajudar o Brasil a ser a nação do hoje e sempre. Somos jornalistas e não podemos nos furtar de cobrar emprego, respeito profissional e defesa da categoria. Exigimos mudança já!

Precisamos tirar os deputados, senadores, prefeitos e vereadores da direção dos meios de comunicação porque são eles que impedem a mudança e preferem manter nossos empregos ocupados por outros profissionais; assim gastam menos e escondem a verdade nua e crua vivida diariamente pelos jornalistas do Brasil. Vamos lutar ou cruzar os braços e deixar os diplomas apenas enfeitando paredes? Alguém pode me responder?

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